A gravíssima e preocupante questão da falta de água

27 de Janeiro de 2015
Jornal O Liberal

Jornal O Liberal

Mauro Werkema

A questão da água se agrava a todo dia. E pode assumir proporções catastróficas para as populações cujas regiões já sofrem com a falta d’água em seus reservatórios. No ar, entre todas as conversas e especulações, permanecem as seguintes dúvidas cruciais: estamos diante de um fenômeno climático temporário, que está circunscrito somente a este ano? Ou será algo mais crítico, crônico, com redução das chuvas em período bem maior, abrangendo vários anos? Há alternativas, como a substituição de fontes de abastecimento com vazão suficiente para suprir a demanda? São questões que se aplicam a várias cidades mas que já tomam aspecto grave em Ouro Preto e distritos e estão a exigir providências que atingem a todos, ou a grande maioria da população, com o fornecimento restrito de água.

Grave também é a estatística divulgada pelo Governo Federal, pela Secretaria Nacional de Saneamento Básico, de que a precariedadedos sistemas de distribuição de água no Brasil levam a uma perda média de 37% da água tratada e ofertada à rede. Este índice é, seguramente, bem maior em Ouro Preto, onde a rede distribuidora é notoriamente precária. E por várias e crônicas razões, como a falta de investimento nesta rede, a acidentada topografia da cidade e, fundamentalmente, porque não há hidrometração. É o hidrômetro que possibilita o controle de todo o sistema de abastecimento, especialmente o índice de efetivo consumo da água tratada e as perdas por vazamentos na rede e nas próprias residências. Se não há hidrômetro, a água não é cobrada e todos acham que, sendo de graça, ou não tem valor ou existe em abundância na natureza circundante.

O caso de Ouro Preto é especialmente grave. Os mananciais principais são antigos, comsistemas de captação ineficientes, com tratamento parcial. Eos recalques, destinados a levar água a regiões mais elevadas, onde a gravidade não permite o escoamento, são também muito precários. A Copasa é assunto proibido em Ouro Preto, a ponto de influenciar decisivamente em eleições. E hoje a empresa não mais se interessa por Ouro Preto, em razão do elevado investimento que teria que fazer em cidade de difícil topografia, e que necessitaria de substituição de quase toda a rede para se conseguir maior eficiência no sistema. E a população, em sua maioria, ainda acha que a água é um dom da natureza, que não deveria ser paga, herança da antiga “pena d’água”, em que o precioso líquido era colhido das terras altas e levado às residências em sistemas precários.

Hoje, um moderno sistema de abastecimento é caro. Passa pela preparação dos mananciais, passa pela adequada captação, pelo tratamento até a redução da qualidade da água ao nível de potabilidade definidos pela Organização Mundial de Saúde,pela distribuição e, finalmente, pelas instalações domiciliares. Sem hidrômetro, não há controle nem a justa remuneração por todo este sistema, hoje operado por complexo serviço de engenharia sanitária. Já a Prefeitura de Ouro Preto, como ocorreu com outras cidades, deveria ter feito uma campanha educacional de esclarecimento à população sobre a água e a indispensabilidade da cobrança. E a campanha deve afirmar que as doenças de veiculação hídrica são muitas e graves. E que a água de Ouro Preto é poluída, conforme inúmeros exames já realizados, ao longo de muitos anos, pela Escola de Farmácia e outras instituições.

O mais grave é que Ouro Preto não investiu na identificação de novos mananciais, compatíveis com a demanda da cidade. E conseguir novos mananciais, ou aumentar a razão dos já existentes,não é coisa fácil, de curto prazo ou de custo baixo. Já deviam ter sido identificadas novas possibilidades, inclusive de cursos d’água, até mesmo os mais distantes. Belo Horizonte, por exemplo, capta água a 70 quilômetros de distância, que é ocaso do Reservatório Serra Azul. A principal captação, do Rio das Velhas, é feita em Bela Fama, distrito de Rio Acima, também bem distante. A verdade, então, dramática, é que se não chover nos próximos dias, e bastante, atingindo os mananciais, a situação se agravaráextraordinariamente e do racionamento organizado Ouro Preto passará à falta mesmo, com restrição ampliada do fornecimento, alterando a vida da cidade e de todos. Lembremos, finalmente, que sem água não é possível a vida.

Comments powered by Disqus

Newsletter

Acompanhe-nos

Encontre-nos no Facebook