A história do homem

08 de Junho de 2018
Valdete Braga

Valdete Braga

Diz a lenda que na Pérsia antiga vivia um rei chamado Zemir. Coroado muito jovem, o rei sentia-se na obrigação de instruir-se o máximo possível durante a sua vida. Mandou chamar os melhores eruditos do reino e reuniu-os em torno de si. Quando todos estavam a postos, pediu-lhes que editassem para ele a história da humanidade.

Todos os eruditos se concentraram, portanto, nesse estudo. Vinte anos se escoaram no preparo da edição. Finalmente, dirigiram-se ao palácio, carregados de quinhentos volumes, acomodados no dorso de doze camelos. O rei Zemir havia, então, passado dos quarenta anos, idade avançada para a época.

  • Já estou velho, disse ele. Não terei tempo de ler tudo isso antes da minha morte. Nessas condições, não conseguirei ler tudo. Por favor, preparai-me uma edição resumida.

Por mais vinte anos trabalharam os eruditos na feitura dos livros e voltaram ao palácio com três camelos apenas. Mas o rei envelhecera muito. Com quase sessenta anos, na época, já era considerado idoso e sentia-se enfraquecido:

  • Com esta idade, não me é possível ler todos esses livros. Por favor, fazei-me deles uma versão ainda mais sucinta.

Os eruditos labutaram mais dez anos e depois voltaram com um elefante carregado das suas obras. Mas a essa altura, com mais de setenta anos, quase cego, o rei não podia mesmo ler. Pediu, então, uma edição ainda mais abreviada.

Os eruditos também tinham envelhecido. Concentraram-se por mais cinco anos e, momentos antes da morte do monarca, voltaram com um volume apenas.

  • Morrerei sem nada conhecer da história do homem - disse o rei, decepcionado e triste.

À sua cabeceira, o mais idoso dos eruditos respondeu:

  • Vou explicar-vos em três palavras a história do homem: “o homem nasce, sofre e, finalmente, morre”. Nesse instante, o rei expirou.
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