A lama agora é de outra natureza

17 de Dezembro de 2015
Jornal O Liberal

Jornal O Liberal

O rompimento da barragem de lama, na localidade de Bento Rodrigues/Santa Rita Durão/Mariana-MG é tragédia nacional no meio ambiente, que causou mortes, causou desalojamento de populações inteiras, causa indignação e inúmeras outras consequências, muitas delas ainda não detectadas. Foram tão grandes os prejuízos que talvez nunca se conheça o número que os quantifique e, também é possível que, em cem anos a natureza não se recupere dos danos sofridos. As populações atingidas muito ainda sofrerão, tanto em forma direta, pela carência de tudo que perderam, não só em conforto, mas, sobretudo, em paz de espírito e autoestima, quanto de forma indireta, sob a forma de descaso, omissão, má vontade, tudo ao contrário da solidariedade inicial. Ao exposto até aqui, crê-se não haver grandes divergências. Estas surgem nas reações aos fatos, provocadas por maneiras diversas de encará-los, característica puramente humana, em conformidade com cada personalidade que as expressa. Em vista dos grandes prejuízos sofridos, em todos os sentidos e por tanta gente, seria de se esperar serenidade na investigação das causas, apuração de responsabilidades e, finalmente, julgamento e punição, se for o caso. Ameaça de prisão a quem quer que seja, nessas circunstâncias, por não cumprir, o que foge à competência de a própria autoridade avaliar, assusta, quando ainda não se tem culpa formalizada; assusta, quando se sabe que criminosos confessos, de todos os tipos nas altas camadas sociais, estão impunes porque tudo os protege. O açodamento da questão, com a interveniência da mídia, já produziu diversos laudos técnicos a apontar a presença de metais pesados, identificados como mercúrio, alumínio, ferro, chumbo, boro, bário, arsênio, cobre e outros, em amostras colhidas no Rio Doce. Não é preciso ser técnico, especialista ou autoridade, para concluir que tais laudos não podem imputar à mineradora a responsabilidade pela presença de tais elementos na lama saída de suas instalações. Para serem válidos os laudos, a amostragem deveria ter sido colhida no local, onde teve início a tragédia. Depois de percorrida tão grande extensão, misturando-se com tanto material lançado posteriormente à mesma correnteza, as amostras colhidas não representam o mesmo material, contido orginalmente na barragem. Não se trata aqui de isentar a empresa, que deve ser investigada em toda plenitude do desastre, mas de mostrar que há gente com interesse de colocar o carro à frente dos bois. Tais laudos só se prestam a confundir a opinião pública. Para que mais sofrimento não haja em decorrência de pré-julgamentos é bom lembrar o velho ditado: “Cuidado com o andor porque o santo é de barro”.

Comments powered by Disqus

Newsletter

Acompanhe-nos

Encontre-nos no Facebook