A lama chegou a Paris

17 de Dezembro de 2015
Jornal O Liberal

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Se agradou a chefes de estado e demais “medalhões” presentes ou participantes da Conferência do Clima, em Le Bourget/Paris – França, a referência da presidente da República à tragédia provocada pela ruptura da barragem de rejeitos de minério soou mal aos ouvidos brasileiros, sobretudo aos marianenses diretamente envolvidos como vítimas ou como cidadãos conscientes de suas responsabilidades em relação aos fatos. Disse a mandatária brasileira que “a ação irresponsável de uma empresa na Grande Bacia Hidrográfica do Rio Doce provocou o maior desastre ambiental da história do Brasil”. Lamentável que a presidente, metida em fina indumentária e a pisar macios tapetes, em ambiente reservado à nata da sociedade mundial, tenha assim se expressado, quando se sabe ter apenas sobrevoado o local da tragédia, mesmo assim, uma semana depois do rompimento. Negou-se a sujar seus pés na lama e conversar com atingidos pela desgraça! Irresponsável é sua declaração, se ainda em início as investigações, para se apurarem responsabilidades, sabendo-se também que alguém só pode ser responsabilizado por algo, depois de provada sua culpa. Para quem conhece bem tretas e mutretas da política brasileira, bem como o modus operandi dos agentes públicos, para tirar o “seu” da reta, na hora do pega-pra-capar, sua fala soa como declaração de inocência do governo, quanto a algo impossível de ele não ser corresponsável. Deixando de lado, acompanhamento e aprovação do projeto de tal envergadura, faltou, no mínimo, correta fiscalização dos órgãos públicos sobre a atividade! Se o rompimento da barragem extrapolou a fortuitidade e teve origem em falha, imprudência, omissão e/ou negligência humana, o governo, forçosamente, estará entre os culpados; mas isso só depois de concluídas as investigações. Mais adiante, a presidente disse: “estamos reagindo ao desastre com medidas de redução de danos e apoio às populações atingidas”. Ditas por ela, palavras são palavras, nada mais do que palavras, que não representam ações, a exemplo de outras tragédias cujas vítimas ficaram ao desamparo governamental, ao som de muito discurso solidário. Em sua peroração disse que vai “punir severamente os responsáveis por essa tragédia”. O governo vai aplicar a autoflagelação?

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