Conta uma lenda que, quando começou a escurecer, um vento frio e cortante começou a soprar nas encostas. Juntamente com as frias rajadas, vinham nevascas e cortantes cristais de gelo. Já não se via mais o quente sol da tarde e as encostas das montanhas estavam escuras e geladas. Perdidas no ruído do vento uivante, duas pequenas vozes se ouviam:
Essas vozes eram de dois passarinhos que, como duas bolas de penugem, aconchegavam-se no galho de uma velha árvore curtida pelo tempo, no alto da cordilheira do Himalaia. Na altitude em que viviam, a neve dificilmente deixava a terra, mesmo em pleno verão. E durante o dia, quando o sol aparecia, esquentava tão pouco que quase não se percebia.
Esse era o problema deles. Eles juravam fazer um ninho para afastar o terrível frio da noite, mas esqueciam as promessas durante o dia e esvoaçavam à procura de comida, cochilavam um pouco e brincavam sob a luz e o calor do sol. Agora, estavam amargamente arrependidos da tolice que fizeram.
Naquela noite, o frio era tão intenso que o casal de pássaros não conseguiu dormir. Durante a noite toda, choraram e se queixaram, prometendo fazer um ninho logo que o sol nascesse. A noite parecia durar séculos, enquanto o frio penetrava em seus ossos. Não faltava muito para darem o último suspiro. Quando parecia tarde demais, um raio dourado refletiu-se na face congelada de um penhasco e o sol começou a aquecê-los.
Ah, o sol está tão bom! Acho que podemos dormir um pouco. Não conseguimos dormir a noite inteira – disseram. E após dormir, foram procurar algo para comer e em seguida ficaram voando e brincando, até que a tarde chegou e o sol se foi novamente. O casal de pássaros voltou para árvore seca, se aconchegaram um no outro e voltaram a reclamar:
Puxa, está realmente frio hoje! Está ainda mais frio que ontem, se esfriar mais não vamos viver até amanhã. Oh! Está tão frio!
E assim, os dois pássaros viveram o resto de suas vidas, desperdiçando totalmente os dias e sofrendo durante as noites.
A moral desta história é que podemos evitar a dor desnecessária, se não esquecermos a promessa que uma vez fizemos em vidas passadas.