Antônio Rodrigues Bello

19 de Janeiro de 2014
Alex Bohrer

Alex Bohrer

Localizada em local estratégico por excelência, por isso escolhida para ser residência de verão dos governadores das Minas e sede do Quartel General da Cavalaria, Cachoeira do Campo estava às margens de estradas movimentadas. No alto de uma colina, longe das enchentes do rio que atravessa o arraial, o esforço coletivo erigiu a Matriz de Nossa Senhora de Nazaré, templo tombado pelo IPHAN em 1949. Os cinco altares que lhe ornam o interior são do melhor Estilo Nacional Português. A imaginária e alfaias, composta de centenas de utensílios e peças, mereceriam, por si só, estudo específico. Mas, o que nos interessa hoje é a obra de um dos seus artistas: o pintor Antônio Rodrigues Bello.

Mesmo que fragmentário, o acervo arquivístico relativo a este pintor português é de suma importância. Desde a publicação, em 1908, da monografia de Padre Afonso de Lemos sobre a Freguesia de Cachoeira do Campo, Bello foi citado em muitos estudos sobre a arte colonial mineira, por ter executado, em 1755, a primeira pintura de teto em perspectiva que se tem registro nas Minas. Segundo Padre Afonso, consultando documentação hoje desaparecida, a quantia foi acertada em um conto e duzentos mil reis, montante considerável para a época. Parece que a obra se arrastou por mais de dois anos, já que até 1757 há doações dos irmãos.

Sabemos por pesquisa recente que Bello já estava pela região de Cachoeira pelo menos 32 anos antes da confecção de seu teto, executando provavelmente os painéis laterais da capela-mor, os painéis do coro, policromando atlantes, cariátides, putti, fênix ou mesmo efetuando o douramento da Matriz de Nazaré. Há documentos relativos a ele em 1723, 1737 e 1738 (quando foi arrolado numa devassa eclesiástica ocorrida no distrito ouro-pretano de São Bartolomeu, se declarando, então, natural do Porto, Portugal).

A obra máxima de Bello é sem dúvida a que concebeu no teto da capela-mor da Matriz de Nazaré. Contudo, essa pintura foi recoberta em época posterior pela que hoje se vê ali (atribuída, conforme inscrição constante no atual forro, a Honório Esteves, famoso pintor nascido por volta de 1860 em Santo Antônio do Leite). As prospecções efetuadas recentemente nos revelaram, contudo, detalhes da pintura original (uma trama arquitetônica cerrada, bem semelhante, em forma e colorido, à que vemos na Capela do Padre Faria, em Ouro Preto, e nos resquícios da que cobria outrora o forro da capela-mor da antiga Matriz de São Bartolomeu). Bello devia, portanto, ser versado em técnicas de representação arquitetônica, apresentando em sua obra muros, parapeitos, sacadas e cimalhas fingidas.

Os estudos atuais sobre Antônio Rodrigues Bello e sua importância na pintura colonial mineira tem muito a ganhar com o trabalho interdisciplinar que em geral restaurações criteriosas propiciam. A longa permanência de Bello em Cachoeira do Campo, convivendo então com outros grandes artistas e empreendedores, também moradores pela época no distrito (como o entalhador Manuel de Matos e o arquiteto Manuel Francisco Lisboa, pai do Aleijadinho), deve ter tido impacto nas obras subsequentes do chamado Barroco Mineiro, coisas que só agora começamos a desvendar.

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