Avenida Brasil

30 de Agosto de 2012
Valdete Braga

Valdete Braga

Quando foi anunciado o capítulo em que a pobre e sofrida heroína conseguiria provas contra a madrasta malvada, na novela Avenida Brasil, confesso que deixei o meu lado noveleiro falar mais alto e, embora não seja de seguir novelas, fiz questão de assistir ao capítulo.

Afinal, a pobre criança teve o pai assassinado, os bens vendidos e foi jogada no lixão pela madrasta. Dez anos depois, volta para fazer justiça. Imperdível.

Assisti ao capítulo e valeu a pena. As atrizes Débora Falabella e Adriana Esteves estavam impecáveis e a heroína conseguiu a sua vingança, aterrorizando e chantageando a vilã. Só que não acabou no capítulo em questão, aí assisti o dia seguinte para ver o desfecho. Também não acabou. Nem no seguinte, no seguinte ou na semana seguinte.

Aí desisti. A tal da vingança tomou um rumo tão esquisito, que já não dava para distinguir heroína de vilã. A pobre e infeliz criança jogada no lixo começou a mostrar-se uma personagem sádica e meio neurótica, com uma sede insaciável de vingança e sentindo prazer em ver o interminável sofrimento da bandida. Ficou estranho, porque heroína e vilã se igualaram em maldade.

Concordo que novela seja entretenimento, e como todo entretenimento deve ter seus exageros. Quem quiser ver realidade, que assista ao tele-jornal. Mas daí a passar um exemplo tão mesquinho de vingança, perde o sentido de divertimento.

Reconheçamos, a tal da Carminha é o bicho – diga-se de passagem a atriz Adriana Esteve está excelente no papel – mas a Nina, que seria supostamente a heroína, não tem ficado atrás, desde que começou a sua interminável vingança.

Ninguém é santo de dar a outra face, só Jesus. Nada mais normal do que um ser humano sentir desejo de “descontar” o mal que lhe foi feito, quando tem oportunidade. Não é muito – aliás não é nada – cristão, mas é humano. Como estamos muito longe da perfeição, torna-se natural.

Mas daí a uma menina boa como sempre foi a Nina, de boa índole e bom coração, sentir esse prazer mórbido em humilhar a outra, por pior que ela seja, a torna igual. Deu o seu troco? Tudo bem, fim de história. Mas daí a ficar semanas e semanas ruminando a vingança, curtindo o sofrimento alheio, vangloriando-se pela humilhação imposta, vai uma grande diferença.

Fica um péssimo exemplo para o expectador, que já nem sabe para quem “torce”, uma vez que bandidos e mocinhos se igualam em maldades.

Se eu soubesse que seria assim não teria assistido ao primeiro capítulo. Pensei que tudo fosse acabar ali.

Mas... se acabasse, acabaria a novela e a audiência.

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