Bichanos, seres mal compreendidos

07 de Abril de 2017
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Percebe-se, ultimamente, um aumento da sensibilidade humana em relação aos animais, fator importantíssimo a ser considerado na contraposição à imbecilidade que, como sói acontecer, faz mais barulho e, por isso, parece ser posição da maioria. É como o uivo de único lobo a fazer mais presença que o balido de um rebanho de ovelhas!

Felizmente, o número de pessoas respeitosas e gratas aos animais é bem maior, ressaltando-se que expande a atenção humana a eles, no sentido de que também tenham qualidade de vida. Dentre a minoria, muitos são os maus tratos, maiores ainda o preconceito e a ignorância humana, quando se trata da relação com os animais, mesmo os domésticos e mais próximos. Entre estes últimos, cite-se o gato, alvo maior da ojeriza humana, nem sempre bem explicada. À indagação sobre a causa da repulsa aos bichanos, a resposta, invariavelmente, ataca com um ou mais desses adjetivos: “bicho traiçoeiro”, “transmissor de doenças”, “não gosta do ‘dono’, e sim da casa”, “bicho do diabo”, “bicho ladrão”, “bicho nojento”, incluindo-se ainda historietas maldosamente ligadas à história da religião, contadas a crianças em processo de educação.

Ao contrário do que dizem seus detratores, o gato é de natureza tranquila, mais chegado ao sono, quando bem alimentado. Se hostilizado, é claro, reage à altura, valendo-se das afiadas unhas, mas não ataca sem motivo, ao contrário de alguns cães, que tratam estranhos como inimigos. Ele pode ser arisco, repelindo qualquer aproximação, se não recebe afagos de quem o abriga e alimenta, mas não chega à agressão propriamente dita. É um dos animais que mais cuida de sua higiene, evitando pisar em lama e sujeira. Com a própria saliva, passa boa parte de sua vigília a limpar a pelagem, mas se habituado por seu ‘dono’ desde filhote, toma banho como qualquer outro animal doméstico. Dentro de casa, prefere acomodar-se em locais limpos e macios, como sofá e cama. O hábito de comer rato é apontado como fator repugnante, o que vale ao gato o adjetivo nojento, mas quem come carne de porco e de galinha, animais dos mais nojentos entre os mais próximos, pode censurar o gato? Acrescente-se ainda que o petisco apreciado pelo gato é, por sua vez, apreciador de queijo, cereais e outros alimentos humanos. Portanto nem gato, nem rato é nojento como são os animais preferidos na mesa da espécie humana! Um tanto gulosos, alguns gatos têm o defeito de pegar comida que não lhe pertence. A comportar-se como padrão de honestidade, há quem decrete a morte dos gatos como ladrões. No reino da incoerência, o porco fala mal do toucinho! Senta-se sobre o próprio rabo e pisa no dos gatos! Quando bem alimentado, tranquilo e pronto para receber afagos, coisa que adora, o bichano ronrona. Pois bem, tido como transmissor de doenças, até disso se valem seus inimigos, para detratá-lo, apontando aquela característica felina como doença (asma) transmissível aos humanos. Aqui a hipocrisia extrapola a indignidade e chega a ser ridícula, sabendo-se que o Homem, não só transmite de forma inconsciente, mas é covarde o suficiente para fazê-lo propositadamente, sob o cúmulo do egoísmo, que não aceita o bem para o semelhante, quando ele próprio disso está distante.

Na verdade, a ojeriza humana aos bichanos está no inconsciente. Totalmente livre, o gato não aceita imposições e só se deixa controlar pela mansidão e carinho, contrariando o homem que a tudo quer dominar pela astúcia, quando não pela força bruta. Por essa razão, elege o cão como melhor amigo; amigo, porque aceita as imposições humanas; amigo porque é subserviente; amigo porque depois de receber uma relhada, volta ao ‘dono' ao simples estalar dos dedos. Do gato não se pode esperar a mesma reação, pois sendo livre e sabendo se virar por conta própria, o gato pode buscar outro canto onde se instalar. O ser humano pensa ser livre, mas está preso a convenções, regras, preconceitos e, não raro, quando lhe convém, à subserviência para satisfazer interesses pessoais. Gato não trabalha e vive bem; o que o homem gostaria também de fazer e não pode!

Para os que somente aceitam a palavra da ciência, pesquisas realizadas na Universidade do Estado de Oregon e Universidade Monmouth (EUA) revelaram que os gatos interagem com humanos, muito mais do que imaginam aqueles que os acusam de serem interessados apenas na comida oferecida ou no abrigo representado pela casa do seus ‘donos’. Depois de algum tempo isolado, sem qualquer contato e comida, grupo de gatos foi colocado diante de pessoas, objetos de sua preferência, comida e água. A grande maioria deles preferiu o contato (espontâneo) com as pessoas antes de procurar pela comida, água e objetos. Conclui-se que não há nada realmente sério que desqualifique os bichanos como amigos do Homem, exceto má vontade e preconceitos deste último!

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