Reabilitação da gordura de porco

13 de Abril de 2017
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Primeiro foi o ovo! – opa, afobadinho! não se trata daquela bobeira, que todo mundo conhece – Trata-se de assunto importante e sério; importante por ter relação com a saúde humana, e, sério porque desmistifica ou desmente, mesmo, uma história marota com segundas e terceiras intenções, divulgada aos quatro cantos. Durante muitos anos, o ovo, alimento dos mais completos depois do leite materno, foi demonizado como indutor da produção do colesterol no organismo. Gente parou de comer ovo, com medo de morrer antes da hora (a morte tem hora marcada?), parou de comer bolos, biscoitos, doces e tudo mais que contivesse ovo, só porque a mídia propalou o presumido perigo e médicos também fizeram muito tutu junto a clientes apreciadores de ovos. Ovo virou palavrão a ser evitada perto de pessoas que, ingenuamente, acreditam em tudo, que ouvem!

Pois bem, depois de muito medo de adoecer e tantos ovos deletados do cardápio, há alguns anos veio a revelação de que todo aquele acautelamento não tinha razão de ser; o ovo continuava a ser um bom alimento, em todos os sentidos, portanto livre para ser consumido, observado, é claro, o bom senso na dieta saudável. Comer todos os ovos refugados, durante o período tirânico, como forma de se ressarcir do prejuízo gastronômico, poderia ter o efeito, enganosamente presumido na fase anterior. Comer ovo é bom, porém dentro do equilíbrio, que se quer em tudo na vida!

Outra reviravolta está a se processar em outro item da alimentação, condenado também por muito tempo como pernicioso à saúde. É a gordura, também chamada banha, de porco! Quem duvidar da palavra deste leigo, que converse com médico atualizado ou, ao invés de bobagens sem qualquer utilidade, pesquise na internet sobre o assunto. Lá se encontram vídeos, gravados por autoridades médicas, que dão conta da maior enganação passada ao público durante décadas. Com algumas exceções nacionais, como os estados de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, a gordura de porco foi banida da cozinha porque seria a causa de doenças cardíacas. Em lugar dela, introduziram-se os óleos vegetais, ditos saudáveis e amigos do coração e das artérias. Minas Gerais e Rio de Janeiro resistiram até a transição entre 1978 e 1979.

No segundo semestre de 1978, propagou-se aos quatro cantos que os porcos estariam sob o perigo da peste suína, já detectada em alguns pontos do país. Dizia-se que a doença não teria como ser controlada e, devido a isso, os porcos deveriam ser exterminados. Como se fato comprovado e sem qualquer discussão, iniciou-se a matança indiscriminada, tanto dos porcos de grandes criatórios quanto dos simples bacorinhos nos fundos dos quintais. Para isso, criaram-se verdadeiras brigadas encarregadas da execução dos “tués”! Sob protesto ou resignação do proprietário, eles entravam nas propriedades e cumpriam a macabra missão. No final daquele mesmo ano, 78, iniciou-se colaboração da natureza a favor dos porcos. Chuvas torrenciais em Minas, Rio e Espírito Santo, desviaram as atenções para as tragédias das cidades ilhadas, mortes por afogamento e soterramentos, pontes destruídas, estradas interrompidas e toda sorte problemas, advindos de milhares de pessoas desabrigadas. Muitas localidades ficaram desabastecidas de praticamente tudo do essencial Curiosamente, não mais se falou na peste suína e os matadores de porcos sumiram do cenário. Ao fim dos cerca de quarenta dias de chuvas intensas, a gordura de porco havia desaparecido dos supermercados e, em seu lugar, estavam entronizados os óleos vegetais, notadamente o de soja.

Somente então se percebeu a grande manipulação em torno daquela necessidade coletiva. Cultivadores de soja e industriais dos óleos vegetais se deram as mãos, para romper as últimas resistências, representadas por consumidores mineiros e fluminenses, que preferiam a gordura de porco na cozinha. A suinocultura continuou, mas dirigida quase exclusivamente para o fornecimento de carne.

Passados trinta e oito anos daqueles dias difíceis, rememorar como foi alterado um hábito alimentar dá mais força para comemorar a reabilitação da gordura de porco, tão apreciada na cozinha dos nossos avós. A ciência, mediante intensas pesquisas, chegou à conclusão de que a gordura de porco é saudável, ao contrário dos óleos vegetais contra os quais há serias restrições. Leigos, porém bons observadores, devem ter levado em consideração aquela crosta amarelada, deixada por óleos nas panelas, após algum tempo de uso. Só isso já bastava para se acender a luzinha vermelha da desconfiança, sabendo-se não acontecer a mesma coisa com a gordura de porco. Felizmente, a verdade foi restabelecida, confirmando-se que a mentira tem pernas curtas!

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