Chega a vez do caçador

19 de Março de 2015
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Pena que ainda não se possa comemorar, uma vez que não se trata de decisão definitiva, mas em atendimento a pedido do Ministério Público Federal, juíza federal, de Brasília, determina que o governo inicie procedimento de deportação daquele assassino italiano (dispensa-se citá-lo pelo nome), acoitado no Brasil, pelo então presidente Lula, depois de o Supremo Tribunal Federal haver decidido por sua extradição. Embora jure inocência e se apresente com a cara mais simpática, entre seus lambe-botas tupiniquins, tal italiano não é suspeito, como aqui se costuma chamar ao indivíduo flagrado no ato criminoso ou ao réu confesso; foi julgado e condenado por quatro homicídios, cometidos entre 1977 e 1979.

Sua história, detalhada pela mídia internacional, tinha antecedentes policiais de menor peso, quando se envolveu com organização terrorista, que almejava a derrubada do governo legitimamente eleito, de seu país em pleno estado de Direito, a Itália. Sua primeira condenação (12 anos e 10 meses de prisão) se dá em 1981, por participação em grupo armado e ocultamento de armas. Ele foge da prisão, vai para a França e, em seguida, foge para ao México. Em 1990, com base em decisão do presidente, François Mitterrand, da França, de não extraditar ex-ativistas de extrema esquerda italianos, que tenham rompido com o passado, o nosso futuro hóspede indesejado retorna à França. Detalhe importante: a indulgência francesa não abrange quem, dentro do mesmo grupo em questão, tenha cometido crime de morte. Talvez sob inspiração de sua aventura, na marginalidade e no terrorismo, ele passa a escrever romances policiais, enquanto o processo contra si ganha corpo na Itália. Em 1991, a Justiça francesa nega à Itália um pedido de extradição, e em março de 1993, à revelia, por estar foragido, ele é condenado a prisão perpétua por quatro homicídios: um guarda carcerário, um policial, um militante neofacista e um joalheiro, além de deixar paraplégico o filho do joalheiro, também atingido por disparo. Em 2003, é-lhe concedida a naturalização francesa, mas um ano depois o ato é anulado. Em 2004, a pedido da Justiça italiana, o homem é detido, novamente à pedido da Justiça italiana, em seguida solto sob pressão de seus partidários e simpatizantes. Contudo sua liberdade é vigiada, devendo ele comparecer à polícia como exige o sistema de vigilância judicial. Ele não cumpre a determinação e passa à clandestinidade. Nova ordem de detenção contra ele parte da Justiça francesa. Recurso apresentado por seus advogados é rejeitado e sua extradição se confirma como definitiva mediante assinatura do decreto pelo primeiro ministro francês, Jean Pierre Raffarin. Mais uma vez, o italiano foge. Em março de 2007, ele é detido no Rio de Janeiro e recolhido à penitenciária da Papuda.

Mais ou menos este é o resumo de sua ficha de antecedentes até seu ingresso no sistema prisional brasileiro. Daí para frente, o público brasileiro, dividido em duas facções, acompanhou sua trajetória: uma, consciente da natureza de seus graves delitos e sua condição de condenado pela Justiça de país, em pleno estado de Direito, pugna por sua extradição; outra, manipulada por correntes politico-ideológicas da mesma linha sua, tentam transformá-lo em herói, a começar pela concessão do status de refugiado político. Como sói acontecer no Brasil, o pseudo-herói é paparicado, defendido por simpatizantes e outros, que nem sabem de quem ou do que se trata; chega-se a cogitar de tê-lo como paraninfo de, pelo menos, uma turma de formandos universitários, em algum ponto do país.

Bobo e de “beiço-caído” ante qualquer indivíduo que enrole a língua, além de tendências a macaquear coisas, não muito sérias, feitas lá fora, brasileiro se desdobra em rapapés a estrangeiros. Atitudes corretas, decisões com base no bom senso, em terras estranhas, aqui não são seguidas, ao contrário do errado ou duvidoso e muitas bobices, copiadas e introduzidas em nosso modo de vida. Esse comportamento esdrúxulo ganha contornos de conivência com criminalidade quanto a bandidos, foragidos da Justiça em seus países. Por várias vezes este país já deu guarida a delinquentes internacionais, destacando-se entre eles o famoso Ronald Biggs, assaltante do trem pagador, na Inglaterra. Por ter se casado com brasileira e, com ela, ter um filho, o assaltante permaneceu no Brasil até quando quis.

A característica brasileira acabou se incorporando aos roteiros de filmes de ação bandida, cujos protagonistas já combinam, previamente, a fuga para o Brasil, assim que consumado o golpe. Em alguns casos, dizem, eufemisticamente, “vamos para a América do Sul”. O Brasil se transformou na “latrina do mundo”; e a prova disso está no recorde de prisões de imigrantes ilegais, procurados pela Interpol. Depois de tudo isso, a notícia do processo de deportação do Cesare Battisti (vá lá o nome do sanguinolento, covarde e fujão italiano) soa como música aos ouvidos dos que esperam ver este país a trilhar caminho mais sério.

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