Pena que ainda não se possa comemorar, uma vez que não se trata de decisão definitiva, mas em atendimento a pedido do Ministério Público Federal, juíza federal, de Brasília, determina que o governo inicie procedimento de deportação daquele assassino italiano (dispensa-se citá-lo pelo nome), acoitado no Brasil, pelo então presidente Lula, depois de o Supremo Tribunal Federal haver decidido por sua extradição. Embora jure inocência e se apresente com a cara mais simpática, entre seus lambe-botas tupiniquins, tal italiano não é suspeito, como aqui se costuma chamar ao indivíduo flagrado no ato criminoso ou ao réu confesso; foi julgado e condenado por quatro homicídios, cometidos entre 1977 e 1979.
Sua história, detalhada pela mídia internacional, tinha antecedentes policiais de menor peso, quando se envolveu com organização terrorista, que almejava a derrubada do governo legitimamente eleito, de seu país em pleno estado de Direito, a Itália. Sua primeira condenação (12 anos e 10 meses de prisão) se dá em 1981, por participação em grupo armado e ocultamento de armas. Ele foge da prisão, vai para a França e, em seguida, foge para ao México. Em 1990, com base em decisão do presidente, François Mitterrand, da França, de não extraditar ex-ativistas de extrema esquerda italianos, que tenham rompido com o passado, o nosso futuro hóspede indesejado retorna à França. Detalhe importante: a indulgência francesa não abrange quem, dentro do mesmo grupo em questão, tenha cometido crime de morte. Talvez sob inspiração de sua aventura, na marginalidade e no terrorismo, ele passa a escrever romances policiais, enquanto o processo contra si ganha corpo na Itália. Em 1991, a Justiça francesa nega à Itália um pedido de extradição, e em março de 1993, à revelia, por estar foragido, ele é condenado a prisão perpétua por quatro homicídios: um guarda carcerário, um policial, um militante neofacista e um joalheiro, além de deixar paraplégico o filho do joalheiro, também atingido por disparo. Em 2003, é-lhe concedida a naturalização francesa, mas um ano depois o ato é anulado. Em 2004, a pedido da Justiça italiana, o homem é detido, novamente à pedido da Justiça italiana, em seguida solto sob pressão de seus partidários e simpatizantes. Contudo sua liberdade é vigiada, devendo ele comparecer à polícia como exige o sistema de vigilância judicial. Ele não cumpre a determinação e passa à clandestinidade. Nova ordem de detenção contra ele parte da Justiça francesa. Recurso apresentado por seus advogados é rejeitado e sua extradição se confirma como definitiva mediante assinatura do decreto pelo primeiro ministro francês, Jean Pierre Raffarin. Mais uma vez, o italiano foge. Em março de 2007, ele é detido no Rio de Janeiro e recolhido à penitenciária da Papuda.
Mais ou menos este é o resumo de sua ficha de antecedentes até seu ingresso no sistema prisional brasileiro. Daí para frente, o público brasileiro, dividido em duas facções, acompanhou sua trajetória: uma, consciente da natureza de seus graves delitos e sua condição de condenado pela Justiça de país, em pleno estado de Direito, pugna por sua extradição; outra, manipulada por correntes politico-ideológicas da mesma linha sua, tentam transformá-lo em herói, a começar pela concessão do status de refugiado político. Como sói acontecer no Brasil, o pseudo-herói é paparicado, defendido por simpatizantes e outros, que nem sabem de quem ou do que se trata; chega-se a cogitar de tê-lo como paraninfo de, pelo menos, uma turma de formandos universitários, em algum ponto do país.
Bobo e de “beiço-caído” ante qualquer indivíduo que enrole a língua, além de tendências a macaquear coisas, não muito sérias, feitas lá fora, brasileiro se desdobra em rapapés a estrangeiros. Atitudes corretas, decisões com base no bom senso, em terras estranhas, aqui não são seguidas, ao contrário do errado ou duvidoso e muitas bobices, copiadas e introduzidas em nosso modo de vida. Esse comportamento esdrúxulo ganha contornos de conivência com criminalidade quanto a bandidos, foragidos da Justiça em seus países. Por várias vezes este país já deu guarida a delinquentes internacionais, destacando-se entre eles o famoso Ronald Biggs, assaltante do trem pagador, na Inglaterra. Por ter se casado com brasileira e, com ela, ter um filho, o assaltante permaneceu no Brasil até quando quis.
A característica brasileira acabou se incorporando aos roteiros de filmes de ação bandida, cujos protagonistas já combinam, previamente, a fuga para o Brasil, assim que consumado o golpe. Em alguns casos, dizem, eufemisticamente, “vamos para a América do Sul”. O Brasil se transformou na “latrina do mundo”; e a prova disso está no recorde de prisões de imigrantes ilegais, procurados pela Interpol. Depois de tudo isso, a notícia do processo de deportação do Cesare Battisti (vá lá o nome do sanguinolento, covarde e fujão italiano) soa como música aos ouvidos dos que esperam ver este país a trilhar caminho mais sério.