Coisas de ontem... e de hoje CXIX

29 de Setembro de 2014
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

– Já que se fala de propaganda do governo, manipulações e coisa e tal, que pensam vocês sobre a campanha que tenta convencer o eleitorado de que o voto mal dado é que leva o mau político poder? – pergunta Narita. E é Lazinha que se manifesta:

– Mas, isso está claro. Se o mau político chega ao poder pelo voto popular, cada eleitor que nele votou é responsável.

– O difícil é encontrar esses “responsáveis” depois que a vaca foi pro brejo; constatada a má escolha, ninguém assume ter votado no pilantra – critica Manelão.

– É assim mesmo – confirma o Quinzão – até parece que o político em foco foi sufragado por bando de eleitores fantasmas.

– Sufragado? Que diabo é isso? Até parece o Tatão a falar!

– Não se estresse, Dorinha! – acode Chiquinha – sufragar é o mesmo que apoiar, aprovar ou dar o voto. Essa questão de escolha popular, na área política, está cada vez mais difícil.

– E não era para ser, com tantos meios de comunicação e tão fácil acesso à informação!

– Aí é que está o nó da questão – adverte Dolores com relação ao dito por Lazinha – Muitos são os meios de comunicação e, por meio do simples celular até as grandes redes de televisão, passando pela internet, qualquer pessoa tem farta informação sobre tudo o que deseja. Muitas vezes, a pessoa acaba por sofrer espécie de “indigestão” mental, quanto atingido por muita informação, diversa e controversa, sobre determinado assunto. Com relação à propaganda política é ainda pior. Veja que, de repente, surge nome a disputar um cargo; digo nome, porque até então ninguém, ou praticamente ninguém, sabe quem seja tal candidato ou candidata. Somente aí, o eleitor passa a receber informações, via rádio jornal e televisão, principalmente, e passa a identificar tal pessoa. Entretanto, é dessa mesma pessoa, apresentada como candidata, que o eleitor recebe informações. É óbvio que a pessoa candidata mostra somente seu lado bom e melhor (se houver, porque não havendo, costuma-se inventar). Escamotear seu lado negativo e enaltecer o positivo faz parte da natureza humana e é direito tão sagrado que a própria Lei diz que ninguém está obrigado a fazer provas contra si mesmo nos tribunais.

– Em contrapartida – adianta o Mário – seu concorrente ou adversário diz dele somente o pior, chegando a atribuir-lhe coisas odiosas, engendradas a partir de fatos irrelevantes. As informações são muitas, porém há dúvidas quanto à sua qualidade. Agressões e ofensas de parte a parte, dizem, fazem parte do jogo. Diante disso, como filtrar as informações e fazer a escolha correta? Para os do círculo do candidato, talvez não haja dificuldades, mas para o restante do eleitorado, especialmente, entre os menos letrados, o ato de escolha acaba por se converter em espécie de loteria. Resumindo: campanhas políticas, invariavelmente, são montadas sobre mentiras.

Dolores aproveita a pausa e volta a falar:

– Diz a sabedoria portuguesa que “em tempo de guerra, mentira é como terra”. Em sendo campanha eleitoral uma espécie de guerra, bastante suja, por sinal, bem se lhe aplica o provérbio.

– Mentira, hipocrisia e demagogia; eis os insumos das campanhas eleitorais! – exclama Tatão, saindo do mutismo atento, posição em que se mantivera até o momento, em relação ao tema levantado por Narita e Lazinha. Dorinha, que percebera sua aparente apatia, espicaça:

– Cheguei a pensar que você não mais quisesse falar.

– Estava a ouvir a opinião de cada um.

– Para, depois, matar tudo com uma paulada, perdão, com uma palavra! – diz Manelão.

– Bom, não tenho a palavra final sobre a questão. Todos têm sua parte de razão, em suas respectivas opiniões, desde a Lazinha que afirma ser o eleitor responsável pela eleição do mau político. Realmente, o eleitor é responsável, porém não o único e nem o maior. O primeiro e maior culpado pela qualidade dos políticos, que temos em atividade, é o sistema político-partidário, ultrapassado, podre e favorecedor de oligarquias. Esse sistema fornece um “prato feito”, do qual o eleitor pensa não poder escapar, tendo que engolir uma ou algumas das iguarias. Na verdade, o eleitor não escolhe, apenas confirma um ou mais dos candidatos pré-escolhidos pelas cúpulas partidárias. Portanto, ele é o menor dos culpados!

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