Coisas de ontem... e de hoje CXXIX

05 de Dezembro de 2014
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Lazinha, que há muito, tem preferido ouvir as opiniões dos amigos, resolve manifestar-se:

– A fábrica teve mesmo como origem a produção de alumínio? Segundo já ouvi dizer seu objetivo original teria sido outro.

– De fato – responde Tatão – seu início não estava ligado a alumínio. Ela foi implantada por iniciativa do engenheiro de minas, Américo Renê Giannetti, em 1934, sob a denominação Eletro Química Brasileira S/A – ELQUISA, para a fabricação de produtos químicos e metalúrgicos com base em energia elétrica de produção própria e recursos minerais como pirita, bauxita, minérios de manganês, calvário e quartzo, todos ocorrentes na região.

E aqui entra Quinzão:

– Parece-me que uma das primeiras coisas produzidas em Saramenha foi ácido sulfúrico; ouvi, quando era criança, algumas referências feitas por meu avô, que ali trabalhou no início da fábrica. Mais tarde, soube que a grande dificuldade inicial foi a falta de energia elétrica. A fábrica era alimentada por motor a gás, de gasogênio a carvão vegetal, já que a concessionária do serviço de eletricidade de Ouro Preto não dispunha da carga requerida pela indústria.

– A informação está correta. E quanto à falta de energia elétrica, houve um fato interessante. Giannetti, empreendedor destemido e de visão ampla, não se abateu com aquela dificuldade. Partiu para a geração da energia necessária, mas a usina do Salto, a primeira do sistema Maynart, sofreu embargo interposto pela mesma concessionária de distribuição de eletricidade em Ouro Preto. Desse embargo resultou atraso considerável. – É coisa da mentalidade tupiniquim – comenta Chiquinha – o incapaz não faz e impede que outrem exerça sua capacidade.

– Mas a dificuldade foi vencida – continua Tatão – em outra fábrica, instalada em 1938, foi produzido hidrato de alumínio, em larga escala e pela primeira vez, no Brasil. Esse produto possibilitou, mais tarde, em 1944, a fabricação de alumina.

– E foi na mesma época que se implantou, no Brasil, a siderurgia de grande porte com a fábrica da Companhia Siderúrgica Nacional – CSN – atravessa Mário.

– Você adianta o que eu, já pretendia abordar. A produção de aço era parte dos planos do governo de Getúlio Vargas – dizendo isso, Tatão faz circular outro texto:

*“A produção de aço em escala maior era um importante item para o setor militar na antevéspera da guerra que estava iminente, e da qual o Brasil participou no ano seguinte (1942).

No setor dos não ferrosos, para acelerar o início de produção de alumínio no Brasil, o Diretor de Material Bélico do Exército, General Toledo Bordini, em janeiro de 1938, convidou o engenheiro Giannetti a estudar a implantação da produção de alumínio no Brasil, para assegurar o suprimento do metal que crescia de importância já naquela época. Em abril de 1938 o General Bordini visitou com seu Estado Maior as instalações da ELQUISA e afinal, em junho de 1938, convenceu o seu presidente Giannetti a aceitar o encargo de implantar a produção do metal em Ouro Preto, para o que teria todo o apoio do governo Vargas, em nome do qual o convite era feito. É oportuno notar que o Ministro da Guerra era o General Dutra, mais tarde Presidente da República.”

– Pelo que se depreende do escrito, o empreendimento teve forte apoio do governo federal; aliás, partiu dele o estímulo – comenta o Mário. – De fato, Mário, os fatos levavam a crer que o Giannetti teria todo o apoio do governo federal, que se empenhava na implantação da grande aciaria e precisava da iniciativa privada no setor dos não ferrosos. A insistência do governo federal, reforçada com a visita do diretor de Material Bélico do Exército, seria de se supor que da área oficial nada faltaria para que o empreendimento seguisse o curso do sucesso.

Manelão atravessa:

– Já vi tudo: o governo deu o nó!

*Trecho extraído do livro “Apontamentos da História do Alumínio Primário no Brasil”, de Raymundo de Campos Machado – edição da Fundação Gorceix/1985. O autor foi diretor da Eletro Química Brasileira S/A (1937/1950; diretor Industrial e vice-presidente da empresa Alumínio Minas Gerais S/A (1950/1972); presidente da Mineração Rio do Norte (1970/1972); diretor das empresas do Grupo Alcan no Brasil (1972/1973); diretor vice-presidente da Alcan Empreendimentos S/A e da Alcan Aluminium (América Latina) Ltda. (1972/1973).

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