Coisas de ontem... e de hoje CXXX

10 de Dezembro de 2014
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

– Ora, Manelão! Do relato feito por Tatão outra dedução não se faz. Você se acha o tal, mas tenho certeza que os demais chegaram à mesma conclusão: que o governo não cumpriu o prometido – é a reação da Dorinha, sempre pronta para críticas. E Tatão conclui:

– Em se tratando de governo do Brasil, era de se esperar esse comportamento desleal. Ainda em 1938, o engenheiro Giannetti esteve na Itália e na Suíça, onde, aproveitando momento de ausência de encomendas, em face de guerra iminente, conseguiu negociar a maior parte do equipamento de que necessitava. Todavia, de volta ao Brasil viu a oportunidade perdida, pois da parte governamental não foram conseguidos os financiamentos necessários, embora tivesse o apoio da Diretoria de Material Bélico do Exército.

– Mas, como a coisa andou se, ao fim, produziu-se alumínio? – indaga Dolores.

– Muita água ainda rolou sob a ponte, pois as dificuldades cresciam à passagem do tempo. À falta de financiamento somou-se, em decorrência da guerra, a impossibilidade da vinda de especialistas franceses, o que exigiu esforços redobrados dos engenheiros brasileiros sem, contudo, obter resultados favoráveis. Como alternativa, a empresa passou a fabricar ferro-ligas, cuja produção se iniciou em 1940. Essa, por muitos anos, foi a maior fábrica de ferro-ligas do Brasil. Mesmo assim, com a má vontade do governo, Giannetti era instado pelo novo diretor de Material Bélico do Exército, general Silo Portela, a reorganizar os planos da fábrica, cujos equipamentos dependiam, agora, de importação dos Estados Unidos.

Em seguida Tatão faz circular o terceiro texto:

*“Com o início da Grande Guerra no velho continente, esperava-se que o Brasil precisasse se preparar para uma longa campanha em que tudo faltaria no país e seria preciso ter disponibilidade de materiais estratégicos como o alumínio e, por isso, a pressão para a retomada dos planos por parte das autoridades militares foi grande.

Os processos administrativos nas repartições do governo tiveram, entretanto, andamento muito lento e as exigências feitas pelo Dr. Giannetti, de financiamento pelo Tesouro Nacional e de proteção da indústria, começaram a não ser cumpridos, pois em vez de financiamento especial pelo Tesouro Nacional foi concedido, depois de muitas dificuldades, um empréstimo de apenas CR$ 26,5 milhões pela Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do Banco do Brasil, baseado em garantia do patrimônio da empresa com avaliação realizada pelo Cel. Edmundo Macedo Soares. O contrato de empréstimo por 10 anos e a juros de 7,5% a.a, foi assinado em dezembro de 1940, mas só foi liberado em junho de 1941 em vista das dificuldades de registro da hipoteca referente a jazidas e concessões hidrelétricas. O atraso foi tão grande que o Presidente Vargas interpelou pessoalmente – em abril de 1941 o engenheiro Giannetti para que acelerasse o andamento do Projeto.”.

O primeiro comentário ao texto passado de mão em mão parte do Manelão:

– Mas que governo cara-de-pau! Puxa o freio de mão e reclama ao condutor porque o carro não anda

– Isso é Brasil, gente! – exclama Dolores.

E Tatão prossegue:

– Giannetti não desanimava. Buscou o que hoje se chama parceria junto ao industrial paulista, Francisco Pignatari. E foi com esse empresário, assumindo as diretorias industrial e administrativa, que o engenheiro Giannetti obteve reforço financeiro para dar andamento no projeto. Em 1941, iniciaram-se as negociações nos Estados Unidos, definindo-se, em seguida, as dimensões da fábrica e, finalmente, sua instalação. A primeira corrida de alumínio realizou-se em março de 1945 e, dois meses depois, terminou a Segunda Guerra Mundial. Como consequência imediata, os grandes produtores de alumínio, Estados Unidos e Canadá, viram crescer seus estoques do metal, sem chances de colocá-lo no mercado pelo preço real, o que resultou em seu aviltamento. A indústria nascente em Saramenha teve então selada sua sorte com paralização da produção em 1946.

Tatão faz circular outro impresso:

*“O governo brasileiro não adotou proteção alfandegária para garantir à nova indústria que tinha sido instalada a seu pedido, o que hoje é inacreditável, pois ao 'similar nacional' tem dado automaticamente tratamento preferencial ao produto fabricado no país, bastando comprovar sua existência para impedir ou dificultar importações que dificultem sua comercialização”.

*Informações colhidas e trechos transcritos do livro “Apontamentos da História do Alumínio Primário no Brasil”, de Raymundo de Campos Machado – edição da Fundação Gorceix/1985. O autor foi diretor da Eletro Química Brasileira S/A (1937/1950; diretor Industrial e vice-presidente da empresa Alumínio Minas Gerais S/A (1950/1972); presidente da Mineração Rio do Norte (1970/1972); diretor das empresas do Grupo Alcan no Brasil (1972/1973); diretor vice-presidente da Alcan Empreendimentos S/A e da Alcan Aluminium (América Latina) Ltda. (1972/1973).

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