Coisas de ontem... e de hoje CXXVII

24 de Novembro de 2014
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

A troca de opiniões sobre a fábrica de alumínio e seu anunciado fechamento continua entre os velhinhos aposentados, agora indignados com a tentativa de apagar da memória coletiva os créditos sociais, obtidos pela empresa ao longo dos anos de funcionamento da unidade fabril. O bom conceito, construído pela empresa, granjeou no público, sobretudo na parcela que, com ela teve vínculo empregatício, grande admiração e sentimento de respeito. Daí o repúdio às críticas sem fundamento, esboçadas a partir da notícia de que o fechamento da fábrica estava marcado para o fim do ano, ou seja, dentro de dois meses.

– Ainda bem que está viva grande parte dos que vivenciaram a época de maior dependência econômica desta região àquela indústria – observa Quinzão – Não fosse isso, tais críticas teriam encontrado terreno onde crescer e abafar a verdade.

– A fábrica conta cerca de sessenta anos, pelo que ouvi dizer – fala Lazinha, que é corrigida pelo Quinzão:

– Exatos sessenta e quatro anos, desde sua aquisição pelo grupo canadense, em 1950. Se contado desde a produção do primeiro lingote, em 1945, são sessenta e nove anos.

– Eu não sabia que a fábrica era anterior aos canadenses em Saramenha! – exclama Dorinha.

– Pois é – confirma Tatão – graças ao pioneirismo de alguns empreendedores, Ouro Preto foi palco da primeira corrida do alumínio, no Brasil; e, para ser mais preciso, no hemisfério sul. Abaixo da linha do equador, a primeira fábrica de alumínio é a instalada em Saramenha. Certa vez, li outra curiosidade ligada à fábrica de Saramenha. Ouro Preto teria se inserido no Livro do Guiness, se existisse à época, por ser a cidade, proporcionalmente à sua população, a terceira maior consumidora de energia elétrica, no país. Só perdia para São Paulo e Rio de Janeiro. Durante algum tempo, Ouro Preto ocupou essa posição devido ao alto consumo de energia elétrica nos fornos eletrolíticos. Não sei se isso era verdadeiro, mas que lá estava escrito, estava!

– Gente, mas isso é muito doido! – expressa-se Dorinha – imaginem Ouro Preto na posição de terceira cidade maior consumidora de eletricidade! – Se verdade, e parece que sim, o fato se deve ao processo de fusão do alumínio, cujos fornos exigem brutal carga de energia – explica o Mário. – Basta dizer que a empresa tinha suas próprias usinas geradoras. E mesmo assim não era suficiente.

Aqui entra o Tatão:

– Quanto a essa insuficiência há um dado interessante que, parece-me, não está registrado, mas levanta hipótese de que a reabertura da fábrica de alumínio, em Saramenha, teria sido fator preponderante na decisão governamental de se criar a Cemig. Como já disse, não vi registro do fato onde deveria estar, mas há fortes indícios a favorecer a hipótese.

– E que indícios são esses? – indaga Quinzão.

– O primeiro deles é a contemporaneidade dos fatos. O grupo canadense adquiriu a empresa em 1950 e logo, no ano seguinte, deu início à produção, já com proposta de aumentá-la mediante readequação e expansão das instalações. Entretanto, havia que suprir a fábrica de mais energia. Onde buscá-la? O governo de Minas Gerais estava sob a direção de Juscelino Kubitscheck, cujo programa de realizações assentava-se sobre o famoso binômio de sua campanha: “Energia e Transporte”. Sua ação marcante quanto à energia foi então a criação da Cemig, fato que se deu, em 1952, um ano após o reinício da produção de alumínio. E, salvo engano, a primeira linha de transmissão da Cemig foi a estendida para Saramenha, ainda com torres de madeira (aroeira). Entusiasta propulsor do rápido desenvolvimento do estado e informado do grande potencial da fábrica como consumidora de energia, o governador deve ter levado isso em alta consideração, em sua decisão pela criação da empresa energética.

– De fato – intervém Dolores – se a Cemig já não tinha meio destino certo, há coincidências demais!

– E outro detalhe muito interessante dá respaldo à hipótese – volta Tatão. – O prefeito de Belo Horizonte, naquele período, era ninguém mais que Américo Renê Giannetti, o pioneiro do alumínio, que instalou a fábrica em Saramenha. Como prefeito da capital estava muito próximo do governador, razão pela qual deve ter também tido participação na criação da Cemig. Mas isso não consta da história oficial.

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