Coisas de ontem... e de hoje CXXVI

20 de Novembro de 2014
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

A notícia do fechamento da fábrica de alumínio, em Saramenha, mexe com o grupo de aposentados, embora entre eles não figure ninguém que lá tivesse trabalhado. Mas, como o Tatão, todos a consideram ponto irradiador da economia local, se não regional, razão pela qual o encerramento de suas atividades afeta também o sentimental. Se nenhum deles por ela passou, todos têm pelo um parente ou amigo com o respectivo registro em sua Carteira de Trabalho. Bom número desses antigos trabalhadores a tiveram como único emprego, meio pelo qual constituíram e educaram famílias bem estruturadas, filhos bem encaminhados profissionalmente. Muitos bons profissionais ali deram seus primeiros passos, aprendendo o trabalho, passo-a-passo, sem qualquer experiência prévia!

Lazinha é a primeira a se manifestar depois de ouvidas as opiniões da Dolores e do Tatão:

– Mas, há gente que fala o contrário – ao que explica Tatão:

– Isso é normal; pessoas generalizam o que é exceção, mas há também os que reconhecem. Ainda, hoje, ouvi alguém que tem críticas à empresa, por algo que com que ele se deu quando empregado. Entretanto, a mesma pessoa garante que, no geral, ele não pode reclamar, assim como outros que passaram por situações semelhantes.

– Mas, não se trata disso, Tatão. Refiro-me à advertência lançada pela Dolores contra pontos negativos irrelevantes, que pessoas poderiam ressaltar, na tentativa de denegrir a imagem da fábrica em foco. Para não fugir à regra dominante é no aspecto social que tentam bater.

– Penso que sei a que você se refere – adianta-se Chiquinha – vi qualquer coisa com relação a hospital e escola. Já se diz que a empresa sequer criou uma escola, hospital ou unidade de saúde e não investiu em saneamento básico.

– E isso é pior que o ponto aventado pela Dolores – diz Quinzão, continuando – ela disse que críticos se agarrariam a pontos negativos irrelevantes. Não é isso que fazem. Tentam, sim, negar o positivo realizado. Hospital ela não construiu e quanto a escola não sei, mas na manutenção da Santa Casa de Misericórdia, ela ajudou muito. Naquele tempo não se ouvia falar em crise na Santa Casa. Quanto a escola, a empresa manteve, por muito tempo, em Saramenha, em Lavras Novas, Santo Antônio do Salto, além de outra fora do município de Ouro Preto, na usina da Brecha. O que essas escolas tinham, graças à empresa, outras escolas não contavam. Na área da saúde e assistência social, para seus empregados, ela antecipou o que hoje é norma em toda grande empresa.

Narita, atenta às palavras do marido, intervém:

– É bom lembrar que, quando ainda não havia a obrigatoriedade do parto realizado em hospital, parturientes, entre familiares de empregados,

contavam com parteira a qualquer hora do dia ou da noite. Veículo com motorista ficava à sua disposição vinte e quatro horas por dia, para conduzi-la aonde e quando fosse necessário.

– E a Sociedade São Vicente de Paulo sempre pôde contar com a participação da empresa na assistência aos carentes, especialmente, na manutenção do Lar dos Idosos – acorre o Mário.

– Quanto a saneamento básico – lembra Quinzão – a primeira estação de tratamento de água, no município de Ouro Preto, foi implantada em Saramenha pela empresa.

– Nenhuma novidade quanto à tentativa de negar realizações! – é Tatão novamente. – O ser humano tende ao não reconhecimento e mesmo á negação do devido a outrem. No nível individual e no corporativo, o fenômeno se repete com frequência. Vejam que há dois mil anos, depois de fazer o bem e pregar a verdade, curar doentes, promover a vida, Jesus, preterido em favor de um bandido, foi condenado a morrer na cruz. Os que lhe estavam mais próximos abandonaram-no, destacando-se seu sucessor, na Terra, que ainda o negou em três oportunidades. Guardadas as devidas proporções, o ingrato fenômeno se repete, pois a todo o momento veem-se pessoas com crédito, na família, em seu grupo e sociedade em geral, serem preteridas em favor de outros que, se algo fazem, é na direção contrária à das primeiras. Não raro, além dos créditos negados, tais pessoas são acusadas, publicamente, de fazer o que nunca fizeram.

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