Coisas de ontem... e de hoje CXXXII - última da série -

24 de Dezembro de 2014
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

– Que pena! – exclama Chiquinha – história com início tão bonito e emocionante terminar de forma melancólica!

– Não só melancólica, porém recheada de frustração e desespero, pois centenas de postos de trabalho se extinguem com o fechamento da fábrica – acrescenta Dorinha.

– A perda é muito grande para toda a região, com prejuízos mais sérios à vida dos que nela trabalhavam. Mas, como disse no início, nada é permanente ou definitivo sob o sol. Tudo que nasce, um dia, morre! O que permanece é a esperança, tão bem simbolizada pela expressão “quando se fecha uma porta, Deus abre duas janelas”. Esperemos que, no caso da fábrica de alumínio, duas ou mais janelas se escancarem. – Que assim seja, Tatão, mas não tarde muito – manifesta-se Lazinha, seguida da Dolores:

– Com a projeção que, hoje, Ouro Preto tem, compensação para essa perda não deve demorar. É o que todos desejam.

E Tatão secunda:

– Sim, tendo o fechamento da indústria a coincidir com o encerramento do calendário, podemos desejar que novas perspectivas se abram ao raiar do Ano Novo. Em seguida ao bulício da mineração aurífera, Ouro Preto viveu a era da capital da capitania, da província e do estado. Com a transferência da capital, o município de Ouro Preto mergulhou na era do esquecimento, de onde conseguiu emergir a partir da implantação da fábrica de alumínio, que reabriu, na região, a exploração de minerais depois de exauridas as jazidas auríferas.

– Fala-se no turismo como nova base econômica para o município de Ouro Preto – aponta Lazinha, imediatamente contrariada pelo Tatão:

– Discordo; não que o setor turístico não tenha força suficiente para tanto. Tem força, e tanta, que o turismo se realiza de forma espontânea, independente do quanto mal preparado, desorganizado e explorado seja, no pior sentido. Sua face receptiva carece de melhor estruturação, além de programação específica e diferenciada do comum encontrado em outros pontos do gênero.

– Dizem que com tanta coisa a ver na cidade, muitas vezes o turista retorna sem visitar a metade do que deveria – comenta Dorinha. – A partir da sua observação, analisa-se o comportamento, não só do público, mas, dos diretamente envolvidos nos aspectos do turismo receptivo.

– Como assim?

– Quando diz “tanta coisa a ver na cidade”, você expõe a visão míope local sobre o turismo. Antes de entrar no mérito do que ver, é bom lembrar que não somente o distrito sede, obviamente o foco das atenções, mas todo o município tem o que mostrar ao visitante. Mas o turista, além de ver o muito que existe, quer ouvir, sentir e interagir com a população local, conhecer sua cultura, saber o que pensa e como vive. O turista moderno não se contenta em desfilar diante de monumentos e circular dentro de museus. Por alguns instantes, horas ou dias, ele quer vivenciar, em parte, o que os locais vivenciam. E isso Ouro Preto ainda não percebeu.

– Eu entendo o que o Tatão diz – intervém Dolores – Há grande carência de atrações, que retenham o visitante e preencham seu tempo, além das visitas aos pontos de destaque; e o pouco que há não contempla a cultura propriamente local. Por isso, o visitante fica pouco tempo na cidade, além de não lhe ser dada oportunidade de conhecer o restante do município. O turismo existe em Ouro Preto devido às peculiaridades da cidade e não porque seja provocado, programado e organizado.

– Como se tudo isso não bastasse, alguns eventos promovem o turismo predatório, incomodativo e desestimulante ao turismo de qualidade. Ouro Preto tem longo caminho a percorrer até a adoção do turismo como base econômica autossustentável – arremata Tatão.

Nesse ponto Quinzão se levanta, estende a mão à Narita e, num arremedo de momento solene, anuncia:

– Foi muito bom este encontro, mas, neste momento, minha consorte e eu temos que nos retirar para cumprir compromisso social. Manelão não perde a oportunidade:

– Muita pretensão sua em denominar consorte a sua mulher. Eu prefiro classificar a minha como “sensorte”. Quanto à retirada do casal amigo, proponho aos demais o encerramento deste encontro, pois a ausência dos dois empobrece o bate-papo.

A um só tempo, Tatão, Mário, Dolores, Lazinha, Chiquinha e Dorinha se levantam, o grupo acerta a conta com os donos do estabelecimento, encerrando assim troca de impressões entre coisas de ontem... e de hoje.

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