Coisas de ontem... e de hoje CXXXI

18 de Dezembro de 2014
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

O grupo de aposentados continua a trocar impressões sobre a situação em Saramenha, ou seja, o fechamento da fábrica de alumínio, evocando a história de sua implantação, que se confunde com o desenrolar da Segunda Guerra Mundial. Se o empreendedorismo, ainda hoje, é luta árdua, imagine-se como deve ter sido o trabalho do engenheiro Américo Renê Giannetti e sua equipe, em Ouro Preto, cidade então isolada e ainda a sofrer as consequências da transferência da sede do governo para Belo Horizonte. Cite-se apenas o embargo à construção da usina do Salto, feito pela concessionária de energia elétrica em Ouro Preto. É sobre este ponto que a Dorinha martela.

– Quanto ao embargo da construção da usina do Salto, não houve quem impedisse?

– Não se impede ninguém de recorrer à Justiça, e, embargo se pede a ela – esclarece Tatão. - Ela julga o mérito, podendo conceder ou não. Obviamente, no caso em questão, o embargo foi temporário, porque a usina acabou sendo construída, embora com grande atraso.

– Gente! Como pode alguém fazer isso? – é a Dolores surpresa com os entraves à realização daquele projeto industrial, não só de grande peso econômico como também de destaque para o município de Ouro Preto. E ela continua:

– Pelo que entendi, a companhia de eletricidade não tinha capacidade para atender a demanda da futura fábrica e não tinha em execução nenhum projeto de ampliação de sua capacidade geradora. Queria o monopólio da geração de energia, sem ao menos ter capacidade de se sustentar. Não é aceitável tal tipo de comportamento.

– Aceitável não é, mas é feito – intervém Manelão – E quem faz são os chamados espíritos de porco. Se você pensa ser comportamento do passado, está enganada porque isso continua.

– Não que eu esteja a isentar a empresa de eletricidade do erro, mas o comportamento errático do Governo Federal superou, em muito, a mesquinharia local – comenta Tatão, prosseguindo: - Além de irresponsável e omisso na defesa dos interesses nacionais, abrindo mercado à concorrência estrangeira, sem qualquer medida de proteção ao produto similar nacional, que acabava de ser produzido, pela primeira vez em solo brasileiro, o governo foi covarde quando induziu o empreendimento, para fugir dele depois. Não daria para acreditar se não tivesse sido registrado em livro (Apontamentos da História do Alumínio Primário no Brasil) por Raymundo de Campos Machado, ou Dr. Machado, como era mais conhecido, à frente da empresa depois que o Dr. Giannetti saiu de cena, em Saramenha. Pessoa de alta credibilidade, como ele, não torceria os fatos a seu favor ou de quem quer que fosse. O governo brasileiro foi mesmo cruel com os pioneiros do alumínio primário no Brasil!

Nesse ponto, a voz de Narita se destaca:

– Mas, isso acontece desde que o mundo é mundo. Faz parte da natureza humana. Pessoas que fazem o bem, quando não sofrem obstáculos aos projetos, são injuriadas, caluniadas, perseguidas. As ações contrárias se produzem na razão direta do bem praticado, ou seja, quanto maior o bem nas ações em desenvolvimento, mais ações nefastas se produzem contra aquelas ou contra sua autoria. Ao contrário, pessoas que nada produzem, nada sofrem e ainda encontram apoio em todas as maquinações contra o bem em prática.

– Você tem razão – admite Tatão – é o correspondente à lei da Física que diz “a toda ação há sempre uma reação em sentido contrário e de igual intensidade”.

– Muito interessante! – exclama Lazinha – mas, por que o fenômeno se faz presente também no nível mental?

E é Tatão que responde:

– Creio não haver resposta conclusiva. No campo das conjecturas poderia ser espécie de prova à qual é submetido o agente da ação, para se avaliar sua convicção, testar-lhe firmeza de propósitos.

– Chiii! Mais tiradas filosóficas – exclama Dorinha.

– É, mais ou menos, o que também penso – volta Narita – nós não somos seres isolados no mundo. Estamos todos sintonizados, uns mais outros menos, com algo maior que se pode chamar mente universal. Ideias, descobertas, invenções, todas a realizações do ser humano, ali, preexistiriam, o que tiraria do autor, descobridor, inventor, realizador a exclusividade naquilo que faz. Ao se sintonizar e, pela intuição, escolher algo para tornar realidade neste mundo, automaticamente e em contrapartida, seria criado conjunto de provas ou testes, a serem vencidos ou superados pela mesma pessoa, como condição para a concretização do projeto sintonizado.

– Seria como no plano público, ao assumir a execução de projeto, o responsável se obriga a cumprir formalidades e provar, ainda que teoricamente, que tem capacidade – acrescenta Tatão... e Manelão adverte:

– Só que no plano maior, não dá para enrolar, tapear, fraudar.

– Nem surrupiar recursos – finaliza Dorinha.

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