Coisas de ontem... e de hoje VIII

20 de Abril de 2012
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Antes de prosseguirmos na “audição” do bate-papo daquele grupo de “terceira idade”, vamos esclarecer alguns pontos relativos ao grupo e ao que discutem. Desde o início da série, pessoas têm abordado o autor, para comentar e, muitas vezes identificam participantes do grupo com pessoas locais, mesmo falecidas. Esclarece-se, neste momento, que o grupo é fictício, isto é, composto de personagens fictícios, criados pela imaginação do autor. Cabe aqui a transcrição da advertência exibida com a apresentação de filmes e que diz, mais ou menos, assim: “esta é uma obra de ficção; portanto qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas é mera coincidência”. Então, por terem o mesmo nome ou apelido de pessoas conhecidas, não quer dizer que delas se trata. O autor se vale de nomes e apelidos populares, muito comuns e que fazem parte da cultura brasileira, para nomear os personagens, colocados em diálogo com a finalidade transmitir, para as gerações atuais, um pouco da história popular local.

A história oficial se escreve por alto e do alto de acordo com o pensamento de agentes políticos dominantes daquele momento vivido, respeitando-lhes interesses e conveniências. Do mesmo modo tende a ser reescrita, ao longo do tempo, quando em posições inversas os agentes políticos, dominantes e dominados. A história popular, ao contrário, é mais fiel aos fatos, porém se perde na oralidade por não ser, ordinariamente, escrita. Mas, esse quadro está a se alterar. A proximidade da câmera, até nas mãos da criança logo após aprender os primeiros passos, bem como do computador, da internet e outros meios, permite o registro do que antes se perdia com a memória individual de cada um. Além do mais, no plano coletivo, imprensa não mais é privilégio das metrópoles, fazendo-se o jornal, o rádio e, até mesmo, a televisão presentes em cidades menores. Registrar usos, costumes, hábitos e o modo de viver de uma era que se foi, é o principal propósito destes textos, apresentados sob a forma de diálogos para escapar ao maçante, que seria a narrativa contínua. É o jornal a cumprir missão de depositário e repassador da memória local.

À volta da mesa, o tema da conversa ainda são nomes de ruas substituídos à revelia da vontade popular.

– Pelo que ouvi dizer – intervém o Mário, referindo-se ao rego d’água que deu origem à Rua do Rego – essa água ainda existe, só que canalizada.
– Isso mesmo – confirma Chiquinha – ela chega por meio de bica à cozinha de residência na Rua São José. Pelo menos ficou para provar a origem do antigo nome da rua. O Manelão se lembrou da Rua do Rego e eu aponto outros casos como o da Praça Bom Despacho, cujo nome atual poderia ter sido dado a logradouro que não tivesse nome, se a vontade era homenagear o ex-prefeito; há o antigo Beco do Lobo, convertido em rua e a partir daí trocada sua denominação. Assim como no caso da Rua do Rego, deveriam ter pesquisado sobre as origens do nome “Lobo” dado àquele beco. A rua acabou sendo vítima de preconceito contra espécie animal, por parte dos que defenderam a mudança, embora o bicho nada tenha a ver com a questão. Se tivessem procurado a razão do nome, teriam sido informados de que se tratava de um homem, talvez um dos primeiros residentes locais.

Nesse ponto, Quinzão esclarece – Não sei se correta a informação, mas já ouvi dizer que o nome seria “Lobo Leite” e é de uma família; com o tempo a denominação do beco foi abreviada para apenas “Lobo”. E, naquela região, até o bairro das Dores trocou de nome, por quê? O nome do bairro surgido à esquerda da igreja de Nossa Senhora das Dores não deveria ter sido estendido à parte mais antiga, da qual a referida igreja é referência por excelência. Também o planalto onde se erguem a ermida de São Sebastião (quase demolida por um padre) e o CAIC corre o mesmo risco. Tem nome que se perde nos primórdios da história de Cachoeira do Campo: Cruz dos Monges, ou, Cruz do Monge, como querem outros. Entretanto, a denominação Vila Alegre, que deveria ser até o fim da subida mais forte, se estende além. E ainda há tentativa de se dar o nome de grileiro safado ao conjunto de ruas situadas ao lado do CAIC. É o cúmulo do desaforo a troca de nome, antigo e consagrado, pelo do loteador pilantra que vendeu o que não era seu. Ali é Cruz dos Monges e fim de papo!

– E o Alto do Beleza? – pergunta Chiquinha – lá o problema é de gramática. Quem não conhece a razão do nome diz “Alto da Beleza” ou “Alto Beleza”. Acontece que o nome não se refere à qualidade do belo, mas ao nome ou apelido de um homem. Até mesmo o atual prefeito já foi flagrado em público a dizer bairro “Alto da Beleza”, mas foi corrigido na hora. Há também quem pense ser nome recente, dado ao bairro, ali surgido nos últimos anos. Alto do Beleza assim já se chamava no tempo dos nossos tataravós; quando aquele alto ainda era domínio de cobras, lagartos e gafanhotos!

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