Coisas de ontem... e de hoje IX

02 de Maio de 2012
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

A troca de nomes de logradouros públicos continua a mexer com o brio da turma. É questão fechada em torno dos nomes antigos e tradicionais, cuja preservação configura respeito também à memória local e a de quantos viveram na construção do patrimônio material e imaterial, que inclui aquelas denominações e suas razões de ser.

– E isso não tem volta? - Indaga a Lazinha – Trocados os nomes, trocados ficam para sempre?
– Claro que a situação pode ser revertida – explica Quinzão – depende dos senhores vereadores.
– Creio que depende mais do povo – adverte Tatão – se o povo quiser a volta dos nomes antigos, os vereadores têm a obrigação de acatar sua vontade; de acordo com a lei, eles representam o povo, embora nem sempre assim procedam.

A essa altura, enquanto os demais dialogam em torno do assunto, Dorinha se levanta e passa a contatos ao pé do ouvido de cada um, até que chega ao Manelão: considero válido como esforço popular, mas isso não funciona mais, quando se trata de conseguir o apoio dos políticos – manifesta-se abertamente.

– O que foi, gente? – é a Dolores, que ainda não tinha sido abordada pela Dorinha, e se surpreendera com a reação do Manelão.
– É que a Dorinha está a falar em abaixo-assinado e não ponho muita fé em tal expediente; está um tanto ultrapassado.
– Concordo, em parte – intervém o Tatão – o abaixo-assinado é válido, sim, porém como complemento. O simples abaixo-assinado com o pedido de retorno dos nomes tradicionais é mesmo desaconselhável. O certo é se elaborar documento com argumentação que justifique o retorno dos antigos nomes, se possível, acompanhado de relação de logradouros sem nome aos quais se dar os nomes que serão destrocados. Feita essa parte, apresenta-se então a ideia para que eleitores (somente eleitores identificados) façam sua adesão mediante abaixo-assinado.
– E será que funciona? – quer saber o Mário.
– Vai depender da vontade política dos vereadores. Aceitarão trocar alguns nomes, sem problema algum. Entretanto, em se tratando de nomes de pessoas e conforme grau de importância política das mesmas, pode haver certa resistência. Não vão querer levar nome de figurão de logradouro central para bairro afastado. Entendeu a mecânica da coisa?
– As próprias famílias oporão resistência – completa Dolores.
– Tenho uma ideia!- intervém Manelão
– Ora, então vamos ouvi-la – é o apoio prévio da Narita, que faz sinal de silêncio aos demais. Escudado na atenção pedida, Manelão se põe à vontade:
– As pessoas não têm apelidos? Alguns apelidos são tão arraigados que os nomes chegam a ser desconhecidos. Conheço pessoa (ainda vive) cujo nome é Raimundo, mas enquanto daqui não se mudou só se apresentava como “Carlos Gomes”. Ele próprio gostava mais do apelido! Por que, então, não se adotar o mesmo critério para logradouros públicos? Creio não haver impedimento à Câmara Municipal, para que adote esse critério. Abaixo do nome oficial, nas placas, colocar-se-ia o nome popular, o nome dado pelo povo. Isso ainda ajudaria os Correios, pois muitos locais, lá fora, ainda usam os nomes antigos nas correspondências.

Vivaaaa! Vivaaa! a ideia é ótima! – reagem todos, enquanto erguem os copos em direção ao Manelão. Narita confirma seu apoio: – realmente, sua ideia, Manelão, além de respeitar o direito de uso do apelido do logradouro, evita possíveis conflitos com as famílias, nos casos de nomes de pessoas. Mas tenho observação a fazer. Parece-me que certa vez foi sugerido esse critério para ruas de Ouro Preto, grande parte delas conhecida apenas por apelidos. A coisa não pegou, mas não sei também se chegou a ser apresentado em forma de projeto na Câmara.

– De qualquer forma, a ideia é boa e merece ser levada à apreciação dos senhores vereadores. Seria interessante que associação local se encarregasse disso. Tem representatividade e mais credibilidade – aconselha Tatão.

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