Coisas de ontem... e de hoje XX

28 de Julho de 2012
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

A história do delegado que sugeriu o porte de algum dinheiro para aplacar a ira de assaltantes de rua provoca risos, na mesma proporção da indignação suscitada pela onda de criminalidade, sem as correspondentes providências para sua contenção, combate e punição. Mário, dos menos falantes do grupo se vê, de repente, sob o foco das atenções e isso o anima:

– Isso se deu há alguns anos, quando o forte dos roubos estava na rua, mediante uso de arma ou simulação dela, em abordagens rápidas. Como, em alguns casos, vítimas foram agredidas fisicamente, ou mortas, por não portar valores, o delegado fez essa sugestão bizarra.

Manelão não perde a oportunidade de fazer uma de suas cômicas intervenções:

– Na época, os bandidos estavam a cursar o bê-á-bá do crime e faziam treinamento em assaltos relâmpagos contra os trouxas, que somos nós. Tiveram apoio na inércia da autoridade, na benevolência das leis e na passividade da população, cuja reação é sempre o beiço caído diante do fato, a língua solta contra tudo, mas sem posição assumida na hora do “pega pra capá”. Aqueles iniciantes progrediram, cursaram estágios superiores do crime e, hoje, estão aí, alguns com “dr.” formal à frente do nome e ninguém à sua frente para impedir. No início se contentaram com a merreca, aquela sugerida pelo delegado tendencioso, conforme disse aqui o Mário. Atualmente, já podem dividir os “lucros” com o esquema corrupto do lado de dentro do balcão.
– Embora a brincar com o assunto, Manelão tem razão ao dizer que criminosos se escoraram na inércia das autoridades e na passividade da sociedade – manifesta-se Quinzão. – A criminalidade não ganhou força de momento para outro, mas, passo a passo, na mesma proporção da tolerância com que foi contemplada, em detrimento dos direitos da sociedade e do cidadão, seguida da impunidade sob os argumentos mais hipócritas. Dos assaltos a transeuntes, bandidos chegaram a ações mais ousadas, hoje verificadas, que incluem ataques a postos policiais e quartéis militares, passando pelos assaltos, ditos “furtos qualificados” efetuados à luz do dia com o uso de caminhões baús para transporte da carga roubada.
– E quando a autoridade ensaia ação contra a criminalidade – é Manelão novamente – é sempre contra a população e não contra os criminosos. O mais notório exemplo quase se concretizou no estado de São Paulo, há poucos meses quando, a pretexto de combater crimes praticados por duplas montadas em motocicletas, a Assembleia Legislativa aprovou lei que proibia a garupa na motocicleta. Não entrou em vigor porque foi vetada pelo governador.
– Mas, chegou a esse ponto? – indaga Dorinha – sabia que o assunto estava em debate, porém desconhecia o fato de ter sido aprovado. Entendi a pretensão como agressão ao direito de o cidadão possuir e usar aquele veículo, do modo que queira, desde que em consonância com o que diz o Código de Trânsito Brasileiro. A autoridade que se desdobre no combate ao crime e aos criminosos, mas sem mais prejuízo aos demais cidadãos.
– Penso da mesma maneira – diz Tatão – e olhe que nem gosto de motocicleta. Nunca tive, não tenho, não quero ter, mas não chego a ter raiva de quem tem, embora se solicitada minha opinião eu desestimule amigo meu a tê-la e usá-la. Considero-a veículo dos mais perigosos com maior índice de acidentes e, consequentemente, de vítimas. Entretanto, há que respeitar o direito de quem gosta, tem e usa, seja para o esporte, para viagens, para o lazer ou para o trabalho. Desde que seja usada com bom senso e de acordo com o CTB, tudo bem!

Larita, que a tudo ouvia, muito atenta, intervém:

– Pois, mais ou menos, isso os bancos fizeram em represália à explosão de caixas eletrônicos locais, na semana passada. Puniram seus clientes, deixando-os sem meios de sacar em suas contas em situações de emergência. No mesmo dia, os equipamentos foram desmontados e recolhidos. Eu mesma já tive que me deslocar para receber os caraminguás da aposentadoria.
– Desse jeito, ainda veremos bandidos no governo – conclui Dolores ante o olhar zombeteiro do Manelão, que arremata:
– Sinto informar que sua previsão está muito atrasada!

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