Coisas de ontem... e de hoje.

15 de Fevereiro de 2012
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Grupo de pessoas conversa e faz comparações de hábitos e costumes entre o passado e o presente, encontrando aí diferenças gritantes, que fazem daquele encontro momento de muito riso. Das comparações a imaginação forja situações, que não escapam aos chistes, trazendo estes do fundo das memórias mais fatos e situações engraçadas. O constrangimento, a que estariam expostas outras pessoas, e o pudor impedem que boa parte do conteúdo da conversa seja aqui transcrita, mas, contornando “obstáculos”, tão como se faz com árvores ao caminhar pela floresta, é possível repassar o situado dentro do razoável e interessante, para conhecimento dos que vivem outro momento, nem sempre conscientes da realidade de outrora. Enquanto se comparam situações semelhantes vividas de formas diversas por gerações diferentes, constata-se também a abreviação do tempo entre as mudanças, nos últimos anos. Transformações processadas ao longo de três gerações já acontecem dentro de uma e o ritmo se acelera na medida que avança a linha do tempo. Boas e más, como faca de dois gumes, trazem melhor qualidade de vida, como também têm sido causa de alguns transtornos.

Em dado momento, o alarido do grupo é abafado por latidos e grunhidos ferozes vindos da rua. Matilha, composta de cães de diversos tipos e tamanhos, levanta poeira, com diversos deles a rolar no chão e trocar mordidas, para pavor de pessoas que passam pelo local.

Está aí uma coisa não existente naquela época – exclama alguém. Os demais percebem logo o que ele quis dizer. De fato, não havia cães na rua, embora as casas ainda não estivessem escondidas atrás de muros e as divisas fossem feitas com cercas de arame ou de bambu. O freguês (ainda não era consumidor) levava, para casa, a carne pendurada por pedaço de embira; podia estar tranquilo porque não encontraria cachorro que tomasse seu bife. Entretanto, ao contrário de hoje, quando se tem a carne classificada conforme a anatomia bovina e vendida por preços diferenciados, não havia opções. O boi de então era dividido em duas partes: a “carne de primeira”, destinada aos figurões, que podiam transpor o balcão para escolhê-la a seu gosto e a “de segunda”, destinada à ralé de fora do balcão, observando-se que a venda da carne de segunda se iniciava pela pior, que cabia aos primeiros compradores; variante da máxima em que “os últimos serão os primeiros”. Como se pode ver, hoje, o consumidor compra a carne que quer, de acordo com seu poder aquisitivo. Seus antepassados, pobres (ainda não “promovidos” a carentes) mesmo que portassem o valor correspondente, não levavam a carne que queriam comprar, porém a que o vendeiro lhes queria vender. Se houvesse, então, cães na rua, melhor seria pobre nem comprar carne!

E já que se fala em carne, tenho a impressão que a comida de outrora era mais saborosa – observa alguém, ao que se dão explicações, algumas bem marotas. – Isso é saudosismo! – argumenta um. – É que você perdeu o paladar, por problemas de DNA! – escracha outro. A explicação mais aceitável vem de outra pessoa. - Creio que dois fatores podem contribuir para isso: frutas, verduras e legumes, em sua maioria, só eram encontrados cada qual em sua respectiva estação, ao contrário de agora, a qualquer época do ano. A presença mais constante satura o paladar! Há que considerar também alterações genéticas em produtos agrícolas, bem como a introdução de novas espécies. Foi aí que se ouviu a observação:

Gente, e o tomate? Come-se, hoje, um tomate fajuto, sem gosto, cuja única vantagem é ser encontrado todos os dias do ano, em qualquer botequim! Antes dessa “coisa” surgir, parece-me que introduzida pelos japoneses, havia um tomate grandalhão, todo gomado como a moranga, ligeiramente ácido e de sabor inigualável; bastava um para satisfazer três pessoas. Em seguida, vinha o tomate maçã, um pouco adocicado e, eventualmente, ainda encontrado. Por fim, o tomate miúdo, meio silvestre e bem ácido, próprio para guisados. Esse também ainda é encontrado, mas em vias de extinção com o surgimento do similar “cereja”, adocicado, também uma tapeação. Que fizeram do tomate gomado?

O engraçado é que algumas comidas de pobre se tornaram nobres – Como assim?- indaga outro do grupo. - Veja o caso do “ora pro nobis” (sem hífen, pois ele não existe em Latim). Era planta humilde, de fundo de quintal, à qual se recorria, na falta de carne na mesa. Descobertas suas propriedades nutritivas, foi introduzido no cardápio de restaurantes chiques e virou tema de festival gastronômico.

Tá nos restaurantes e em festival, mas com receitas afrescalhadas; prefiro o “ora pro nobis” à moda da roça, com costelinha de porco, para se comer com angu. Observe-se, também, que a pasta cozida, obtida da mistura de fubá e água - nada mais - é prato tipicamente mineiro e se chama angu, não pooolenta, como dizem outros por aí; polenta é outra coisa! – Braaavo! é assim que se fala!

A turma continuou reunida e a brincar com coisas de antanho e do momento.

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