Com 350 anos, cara-de-pau infestada por cupins

04 de Agosto de 2013
Jornal O Liberal

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Tida como fora de propósito, procedimento antipático, coisa de gente chata, reclamação eventualmente acolhida pela parte reclamada costuma ser tratada, em território tupiniquim, como meio para desestimular o reclamante e inverter a situação. E, em assim sendo, a má fé e o desrespeito com foco no consumidor e/ou usuário ganham força porque, assustado com manobras preliminares para se anular a defesa e se garantir prevalência de interesses do mais forte sobre direitos de cidadania do mais fraco, o reclamante tende a recuar. Configura-se, então, para fracos e indecisos, a falsa impressão de que não vale mesmo à pena reclamar, e que a corda sempre se arrebenta no ponto mais fraco, para gáudio de treteiros e mutreteiros, que não perdem oportunidade de amealhar além do que lhes permitem a ética e honestidade. Usuário imbuído da crença de que empresa, dita em atuação no mercado há trezentos e cinquenta anos, é realmente dotada de todas as qualidades anunciadas em comemoração de sua longevidade, procura seu posto de serviço local. Confia aos Correios carta, registrada com AR, que deve chegar a destinatário local em até cinco dias. Ao sétimo dia, não tendo recebido o “Aviso de Recebimento-AR”, volta ao posto e lhe é informado que ainda não foi entregue, mas que o será naquele dia. Como a carta já perdeu sentido, pede suspensão da entrega, para que se providencie substituição daquele objeto, no dia seguinte. Recebe de volta, intacta, a carta postada oito dias antes, posta a segunda, imediata e comprovadamente entregue ao destinatário. Passa a reclamar devolução do valor pago pela primeira, procedimento justo e normal em caso de serviço contratado e não cumprido. Descobre, então, que o responsável local não tem autonomia para devolver valores, ainda que o respectivo serviço não tenha sido prestado. Recorre ao atendimento via internet, cheio de minúcias, irritante e que se revela inoperante. Depois de algumas tentativas, consegue contato com o atendimento eletrônico por telefone, submete-se às ordens ditadas pela máquina e, finalmente, consegue ouvir voz humana, ao vivo. Registra a reclamação, solicita a devolução e aguarda solução. Passam-se alguns dias e a empresa “trezentona” responde que o objeto teria sido entregue em data situada dez dias após sua postagem, ou dois dias após ter sido recolhida pelo remetente. Ó caras-pálidas de trezentos e cinquenta anos! Em tempo de Franciscus entre nós, diversificastes ainda mais as atividades, metendo-vos a também a fazer milagres? Como podeis ter em mãos, o mesmo objeto que devolvestes ao cliente frustrado com a falha do vosso serviço? Aporrinhais usuários com filas, porque quereis ganhar mais dinheiro com o trabalho estafante de apenas quatro funcionários, e, ainda vos negais a devolver caraminguás injustamente amealhados? Como sois cara-de-pau! Aos trezentos e cinquenta anos, seria bom terdes cuidado com os cupins!

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