Covardia Comunitária

05 de Agosto de 2011
Jornal O Liberal

Jornal O Liberal

A fábula dos camundongos que, na hora de comer o queijo na mesa do dono, queriam se livrar da presença do bichano se aplica a muitas situações do quotidiano. Em assembleia geral, a comunidade “camundogônica” manifestou unanimidade pela aplicação de recurso que denunciaria a presença felina, evitando assim que qualquer rato daqueles fosse apanhado com a boca na botija. Foi aquela festa com “rataiada” a expressar contentamento pela decisão! O recurso seria a colocação de guiso no pescoço do gato. Mas a questão final era: a quem caberia o sacrifício, o risco de enfrentar os bigodes do bichano? Aí, a coisa foi pro brejo, pois rato nenhum aceitou a incumbência e, cada um a sair de fininho, o recinto ficou às moscas. Situação, mais ou menos semelhante, vivem cachoeirenses em relação à necessidade de se ter capela velório. Toda a comunidade se manifesta a favor e cobra sua instalação. Entretanto, da vontade explícita à sua execução, longo caminho com obstáculos se interpõe, afastando para longe no tempo e mais longe ainda, no espaço, se persistir a teimosia comunitária. Ao tentar definir o local da capela, o bicho pega com a recusa, de parte a parte, em tê-la por perto. É pessoa que teme desvalorização do seu imóvel, são moradores de outra rua por motivos vários, é um bairro inteiro que não a quer. Puro preconceito e discriminação contra quem não mais vive e, por isso, também não reclama ou denuncia! Ou seria a comunidade contra si própria, na hora de se despedir de seu pai, mãe, filho, irmão, avós, esposo, esposa e amigos? Que perigo oferece o finado (meu ou seu ente querido), durante poucas horas, a receber as últimas homenagens? Não se entende essa má vontade, medo, ignorância ou, sabe-se lá o quê, contra a capela velório aqui, ali, ou acolá. Pior é cemitério em pleno centro urbano! Entretanto, até mesmo grandes cidades ostentam suas necrópoles em meio às moradas dos vivos. Contra inofensivos defuntos toda a carga de rejeição e, incoerentemente, nada contra vivos, bem vivos, perturbadores do sossego público, como proprietários de veículos barulhentos, seja por falta de manutenção ou por ostentar parafernália eletrônica ligada como se em universo de surdos estivesse; nada contra vizinhos ou casas comerciais, que mantém equipamentos sonoros também ligados a altos decibéis; nada contra veículos estacionados na calçada, a obrigar pedestres, de oito a oitenta anos, à disputa por espaço com os veículos que circulam; nada contra mercadores que colocam produtos à venda na calçada, fazendo o mesmo que veículos aí estacionados. A explicação dessa incoerência é: COVARDIA! Quem já morreu não reage à petulância dos vivos, mas quem está vivo ainda pode ser obstáculo a interesses de quem o acusa, ainda que justificadamente!

Comments powered by Disqus

Newsletter

Acompanhe-nos

Encontre-nos no Facebook