Decepção

26 de Agosto de 2016
Valdete Braga

Valdete Braga

É comum ouvirmos que o que mais dói quando sofremos uma decepção é o fato dela vir de quem menos esperamos. Esta frase é verdadeira, mas é também muito óbvia. A própria palavra “decepção” vem do fato de não esperarmos. Se alguém que não faz parte do nosso círculo de amigos apronta alguma, conosco ou com outra pessoa, o fato nos passa despercebido, porque aquela pessoa não ocupa lugar de importância em nossa vida.

Mas quando a atitude desrespeitosa, discriminatória ou que simplesmente nos deixa triste vem de alguém que a gente considera, trata bem, dá carinho e pensa receber de volta, aí justifica a decepção. Ninguém se decepciona com quem não se importa. Portanto, a decepção sempre vem de quem não esperamos. O mesmo ato, vindo de alguém não importante em nossa vida, pode gerar raiva, indignação, talvez mágoa, mas nunca decepção, porque não o julgávamos impossível.

Creio que o numero de pessoas decepcionadas vem aumentando tanto pelo fato do ser humano estar se desumanizando mais a cada dia. As pessoas agem sem pensar no outro, vão falando por falar, agindo por agir, estamos nos transformando em robôs dentro de uma bolha onde só existe o nosso mundo.

Não paramos para pensar que uma atitude aparentemente sem conseqüência para um pode causar seqüelas sérias em outro. É um tal de “eu sou assim”, “é o meu jeito”, que está jogando as pessoas em um buraco negro do qual elas mesmas não conseguem sair depois.

Obviamente, cada um é um. Não existem duas pessoas iguais no mundo. Nem gêmeos univitelinos, por mais idênticos que sejam fisicamente, possuem a mesma personalidade. E graças a Deus que é assim, o mundo seria sem atrativos se fôssemos todos iguais. O que nós precisamos aprender com urgência é que o “nosso jeito” não pode ser imposto ao jeito do outro. Se o meu jeito magoa, ofende, maltrata, cabe a mim mudá-lo. Ninguém tem o direito de agredir outra pessoa porque “o seu jeito” é agressivo. Ora bolas, mude o jeito, então. Ou evite conversar com pessoas que o “seu jeito” vai magoar, porque se um tem o direito de ser grosso, o outro tem igualmente o direito de ser sensível. E sensibilidade e decepção andam sempre juntas.

Todos nós podemos controlar nossas atitudes. Está aumentando muito e com muita rapidez essa confusão entre agressividade e sinceridade, entre as pessoas. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Sinceridade é uma virtude que só engrandece quem utiliza e faz bem para todo mundo. Grosseria é outro assunto, e esta confusão, que alguns não conseguem separar, acaba causando desentendimentos, brigas, e problemas às vezes bem mais sérios.

Sinceridade não causa decepção. Grosseria sim. E ninguém é obrigado a suportar os ataques de quem “não está em um bom dia”. O sincero, quando não está bem, explica que no momento não está em condições de atender a pessoa e marca outra hora, e fica tudo bem. O grosseiro grita “não está vendo que hoje não estou legal?” e perde um amigo hoje, outro amanhã, outro na semana que vem. E se afunda cada vez no poço da solidão, com “o seu jeito”.

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