Dengue não está na vítima do mosquito

29 de Abril de 2015
Jornal O Liberal

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“Tamanho não é documento”, querendo isso dizer que nem sempre grandes resultados, bons ou maus, têm causas no mesmo volume ou tamanho. Imagine-se o tamanho do mosquito da dengue, se ele fosse proporcional ao resultado de sua ação na área da saúde! O raio do mosquitinho besta, que não gosta de água suja e prefere morar perto de humanos (fraco gosto, em alguns casos) preferencialmente dentro da mesma casa, pode ser morto com um tapa, mas tem tirado o sono de muita gente, ao lado de outro tanto de doentes, que podem se bandear desta vida, por causa do mesmo bestinha. O grau do sofrimento, diretamente ligado à picada do porqueira, sem falar na angústia da espera pelo atendimento médico na rede pública de saúde, já seria suficiente para, no “reino do mal”, ser nomeado o aedes aegypti com o mais elevado título da escala desumana. A moléstia não é moleza e espécie de preguiça, conforme sugere o nome “dengue”, podendo ter sido, sim, no início, mas hoje, evoluída ao longo do tempo, ela é antessala do inferno, segundo relato de quem já sofreu. Se muito sofrimento causa à vítima, pouco não é o trabalho dado aos dedicados à ciência e pesquisas em torno de sua natureza e ação, que causam surpresa aos não acostumados a detalhes só observados, em laboratório, por especialistas. Informa-se, por exemplo, que o aedes aegypti macho só colabora na procriação, sendo inocente quanto à picada, que só é efetuada pela fêmea. Ah! Vão dizer que é machismo jogar a culpa na coitada da mosquitinha! O ovo, cerca de um mil e quinhentos depositados por fêmea em sua vida, leva cerca de sete a oito dias para eclodir, liberando a larva que se converte em mosquito. Mas, o mais surpreendente é que o ovo ainda resulta em mosquito, depois de um ano, se mantido seco. É humilhação demais para o ovo da galinha que se perde em quinze dias, quando fora da geladeira, deixando humanos sem o alimento, enquanto o diminuto e frágil ovinho guarda sua maldade por cerca de quatrocentos e cinquenta dias. Pois é; o dito insignificante mosquito significa muito sofrimento, tormento, angústia, trabalho e... também enganação, em lugar da verdade, quando as autoridades esbarram em sua incompetência, não de solucionar, mas de lidar com a situação. Disseram e ainda insistem que o armazenamento de água, feito pelo povo, para enfrentar a escassez na distribuição pública, fomentou os criadouros de mosquitos! Ora, dificilmente se faz armazenamento por mais de três dias, em situações emergenciais, mesmo porque há falta e seu consumo é imediato. Se o maldito ovinho eclode em sete ou oito dias, então já foi consumida a água armazenada no início do ciclo. Nos ovos, que se conservam por mais de um ano, ninguém fala e, talvez, para eles devessem voltar as atenções, em lugar de eleger a população como bode expiatório. Dengue, a significar corpo mole ou preguiça, seria melhor endereçada à incompetência dos que fogem à responsabilidade, debitando a culpa na população.

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