“Doações” para campanhas, antessala da corrupção

27 de Maio de 2015
Jornal O Liberal

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A questão dos gastos e doações nas campanhas eleitorais nunca foi bem vista pelo eleitor mais esclarecido, pois ninguém anda a fazer gracinhas com dinheiro só pelos belos olhos de alguém. Está na cara, e só não vê quem não quer, que interesses ocultos (nem tanto) há nas pretensões do candidato, cujos olhos crescem diante de possibilidades além do subsídio (erroneamente denominado salário para cargos públicos eletivos) e, do doador que considera o gesto como aplicação financeira das mais rentáveis, a médio e longo prazo. Deixando de lado as doações, o candidato economicamente mais forte, se deixado à vontade para gastar, constitui barreira intransponível para o candidato capacitado, porém pobre de recursos financeiros. Não há chance diante do potencial para fazer a propaganda e para compra de votos, cerceada pela Lei, mas não extinta totalmente. De volta às doações, é de fazer pensar, e muito, no que acaba de ser constatado pelo Ministério Público de Minas Gerais: quase cinco mil pessoas físicas e mais de trezentas pessoas jurídicas são suspeitas de ter feito doações, além do limite legal, para a última campanha eleitoral. Registre-se, enfatize-se, divulgue-se que não se trata do total de doadores, mas, sim, dos que extrapolaram o limite imposto pela Lei Eleitoral; isso só em Minas Gerais! Essa é ponta do iceberg, formada pelos que extrapolaram os dez por cento sobre o rendimento bruto no ano anterior. E pensar que entidades assistenciais chegam a fechar por falta de recursos, mesmo sob a proteção das leis de incentivo; pessoas morrem porque não têm o suficiente para tratamento da saúde; escolas não alcançam o mínimo no ensino, porque lhes falta suporte necessário e obrigatório. Gestores culturais têm, como um dos maiores obstáculos, a sensibilização do empresário no tocante ao investimento em cultura, ainda que sob o amparo de Lei de Incentivo Cultural, preferindo, muitas vezes, pagar o imposto em sua totalidade, do que carrear parte dele para evento cultural. Quase sempre ele desconfia de que não é bom negócio. Quanto a financiamento de campanhas eleitorais, uma loteria no escuro, uma vez que o resultado é imprevisível, o dinheiro escorre como água da torneira. Vá entender este país, onde papelucho contendo alguns números, sem qualquer assinatura, vale dinheiro em banca de jogo-de-bicho e uma nota promissória não merece respeito junto ao devedor.

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