...E ainda me perguntam

14 de Julho de 2017
Valdete Braga

Valdete Braga

Em uma roda de amigos, diante dos últimos acontecimentos, o assunto não poderia ser outro que não a situação política que atravessamos. Uns pensando de uma maneira, outros de outra, alguns argumentos técnicos, outros passionais, mas tudo dentro do respeito à opinião alheia, como deve ser. No meio da conversa, pela milésima vez, uma pessoa perguntou-me porque eu não escrevo sobre isto, e pela milésima vez eu respondi que a minha área de atuação é outra. Não sou comentarista política e mesmo quando falo sobre o tema é em outras bases.

Ele não se furtou a dar uma cutucadinha: “assim fica fácil”. Deu para perceber que a provocação não foi bem aceita pelos demais, mas eu respondi bem calma: “sim, também como fica fácil para você, como militante, falar sobre. Cada um no seu quadrado, né?”

Silêncio na mesa. Um amigo em comum, super palhaço, deu um tapinha no ombro da pessoa e falou, rindo: “podia dormir sem esta, né colega?”

Estávamos entre amigos, não houve da parte de ninguém intenção de brigar, e tudo ficou bem, mas a verdade é que esta “obrigação” que alguns sentem em se manifestar já está passando do limite. Fala quem quiser, opina quem quiser e se cala quem quiser. Admiro pessoas combativas, mas quem sou eu para julgar quem simplesmente prefere ficar quieto? Isto também é democracia.

Há algum tempo atrás, quando alguém usava a conhecida frase “odeio política” eu sempre discordava. Meu argumento era o de que não é preciso sair carregando bandeiras ou fazendo discursos para ser politizado, que mesmo calado, sem alarde, a pessoa pode ter suas convicções e exercê-las. Hoje nem argumento mais. E mesmo não concordando, entendo quem pense assim. É algo positivo? Não. É bom para o país ou a população? Também não. Se a maioria passar a odiar política, estaremos abrindo mais caminho para os maus políticos, que já são tantos. Mas hoje eu entendo. No ponto em que as coisas chegaram, as pessoas estão se cansando.

Tudo virou um circo, onde as idéias já vêem pré concebidas, de acordo com a pessoa e não com o seu ato. Independente do que o “meu” político faça, ele está certo. Independente do que o “seu” faça, está errado. Cada um defende o “seu” e condena o “do outro”, algumas vezes sem o menor conhecimento de causa. Admiro quem defende ou acusa baseado em argumentos e o mínimo que seja de conhecimento. Concordando ou não, respeito e acho legal a pessoa defender aquilo em que acredita, mesmo que sua crença seja diferente da minha. Mas sair fanaticamente em defesa ou condenação porque o ato foi de fulano ou sicrano, sem nem pensar no ato em si... me poupe. E ainda me perguntam porque eu não escrevo sobre política.

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