Uma mensagem de Buda

04 de Agosto de 2017
Valdete Braga

Valdete Braga

Diz a lenda que um dia, já em idade bastante avançada, Buda passava por uma floresta. Era um dia quente de verão e ele estava com muita sede. Então ele disse a Ananda, seu discípulo-mor: "Você precisa voltar, passamos por um pequeno riacho, cinco ou seis quilômetros atrás. Vá, leve a minha vasilha de esmolas e me traga um pouco de água. Estou com sede e cansado".

Ananda retornou, mas, ao chegar ao local, percebeu que alguns carros de bois haviam atravessado o riacho, revolvendo o leito de folhas secas e deixando a água enlameada. Já não era mais possível beber daquela água, ela estava muito suja. Ele voltou com as mãos vazias, e disse a Buda: "Você precisa esperar um pouco. Eu vou seguir adiante, pois ouvi falar de um grande rio a apenas três ou quatro quilômetros daqui. Trarei água de lá".

Mas Buda insistiu e disse ao discípulo para voltar e trazer água do mesmo riacho.

Ananda não conseguia entender tanta insistência, mas, se o mestre estava ordenando, o discípulo obedeceria. Retornou ao riacho, mesmo sabendo do absurdo que seria caminhar cinco ou seis quilômetros, sabendo que a água não era boa para ser bebida. Buda ainda lhe disse: "E não volte se a água ainda estiver suja. Se estiver suja, simplesmente sente à margem do riacho, permaneça em silêncio e observe. Cedo ou tarde, a água estará límpida novamente, e você poderá encher a vasilha e voltar".

Ananda retornou ao local e verificou que a água estava quase límpida, as folhas tinham sido levadas, a sujeira tinha assentado. Mas ainda não estava totalmente limpa. Assim, ele se sentou à margem e apenas observou o rio fluir. Lentamente, o rio foi se tornando transparente como um cristal. Ananda retornou dançando. Ele havia entendido por que Buda fora tão insistente, pois na sua insistência, havia deixado uma mensagem que ele compreendera. Ananda entregou a água a Buda e o agradeceu tocando seus pés.

Buda então disse: "O que você está fazendo? Sou eu quem deveria agradecer a você por ter me trazido água".

Ananda retorquiu: "Agora eu entendo. No início eu estava com raiva. Eu não demonstrei, mas estava com raiva porque achava que era absurdo voltar. Agora, entendi a mensagem. Sentado à margem do riacho, me dei conta de que a mesma coisa acontece com minha mente. Se eu mergulhar no rio, eu o sujarei novamente. Se eu mergulhar na mente, apenas criarei mais barulho, mais problemas serão desenterrados e irão começar a aparecer. Aprendi a técnica simplesmente ao sentar à margem".

Fique sentado à margem de sua mente, observando sua sujeira, seus problemas, suas folhas podres, mágoas, feridas, memórias , desejos. Sente-se despreocupadamente à margem de tudo e aguarde o momento em que tudo estará límpido novamente.

Isto acontecerá por si só porque, no momento em que se sentar à margem de sua mente, você não estará mais transmitindo energia para ela. Essa é a verdadeira meditação. A meditação é a arte da transcendência.

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