...E, na praça, o som se corrompeu!

09 de Setembro de 2014
Jornal O Liberal

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No princípio, era o som, puro, tal como surgiu pelo sopro do Criador, na natureza. Manifestado no canto das aves, no movimento das águas, no ribombar do trovão, nos arroubos do vento e farfalhar das folhas, impressionou ao Homem, que o achou bom, passando a imitá-lo. Introduziu-o em suas atividades e não mais viveu sem ele. E, na evolução de sua relação com os sons naturais, o ser humano separou entre eles os mais refinados e harmônicos. Surgiram as notas, e, com estas, a música, arte considerada divina. Não lhe bastando a voz, para a sua manifestação, o Homem desenvolveu instrumentos, por meio dos quais iniciou-se como o maior disseminador de sons, agora ordenados, combinados, harmonizados e agradáveis aos ouvidos. Desejoso de que todos, e não somente músicos executantes e público presente, ouvissem a melhor produção musical, o Homem desenvolveu a fonografia, ou seja, a técnica da gravação do som e, em seguida, sua propagação por meio da eletrônica, recém descoberta. E foi este o ponto de partida para a decadência. Mais consumidor do que produtor e desviado para amplificação sem limites, proporcionada pela novidade da eletrônica, o Homem abusa de seu poder e investe contra a sensibilidade auditiva. Lamentavelmente, foi isso que aconteceu nos dois recentes eventos musicais, quando a sonoridade de instrumentos como o violino, o clarinete, o oboé, o fagote, foi abafada por sons mais graves estupidamente amplificados pela parafernália eletrônica. A engenharia de som, solução para os problemas de reprodução e propagação equilibradas, responde às desculpas esfarrapadas de que os eventos se realizavam em área aberta. Falta de cuidados, má vontade, desconsideração para com os artistas e para com o público, tudo se somou para lançar os eventos na vala comum das produções barulhentas, em que o foco é a “Eguinha Pocotó” e congêneres. Que artistas e público prejudicados perdoem aos responsáveis pela sonorização. Eles não sabem o que fazem!

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