Escolha

06 de Maio de 2015
Valdete Braga

Valdete Braga

Um casal de amigos passa por uma crise conjugal (será que algum casal consegue se safar dela?).Como sou amiga dos dois, procuro ouvi-los, sem entrar no mérito, é óbvio, ficar perto quando precisam e longe quando assim preferem, fazendo o meu papel de amiga.

Outro dia tiveram uma discussão, ela reclamando que ele anda bebendo demais. Ele, imediatamente, justificou que está bebendo porque a convivência está muito difícil, que ela não o compreende, só dá atenção aos filhos, e desfilou todos os defeitos dela. Após ouvi-lo calmamente, ela simplesmente respondeu: – Tudo bem, eu posso ser isso tudo; mas quem está bebendo é você.

É engraçado como nós temos a mania de jogar sobre os outros a responsabilidade pelos nossos atos. Sempre encontramos uma maneira de justificar o que não está bem em nós, com alguma coisa que o outro fez. Beber porque a esposa não compreende, trair porque o marido não dá atenção, ser reprovado na universidade porque o pai não mandou a mesada... algumas “desculpas” são cabíveis em crianças, ou mesmo adolescentes, que ainda estão em formação. Mas adultos são responsáveis por seus atos.

Este meu amigo não é alcoólatra, estava bebendo além da conta para “esquecer”. Não desmerecendo os problemas dele, a esposa está certíssima: sejam lá quais forem as suas razões, a atitude é dele e não dela. São as mãos dele que pegam o copo, os lábios dele que bebem o líquido. Ninguém os jogou “goela abaixo”. Se for assim que ele “esquece” os problemas, a opção é dele e ele não tem o direito de culpar ninguém por isto. Creio que é assim com todos nós: os problemas estão aí, batendo à nossa porta, e é tão mais fácil culpar o passado problemático, o pai carrasco, a mãe displicente ou o filho revoltado! É tão mais cômodo jogar para outro a responsabilidade que é nossa!

Jovens que se drogam por falta de carinho ou carinho demais, adultos que tiram proveito dos outros porque sofreram muito na infância, gente que se vende porque“nesse país é assim...”. Claro que a formação ajuda muito, assim como a falta dela prejudica. Claro que uma pessoa que cresce amada e cercada de carinho, tem tendência a ser uma pessoa melhor do que a que foi rejeitada ou humilhada, e vice-versa. Mas isto não pode se tornar motivo para os nossos atos. Não podemos nos esconder atrás do negativo para sermos também negativos. Quem nunca teve problemas? Alguns mais sérios, outros, menos; algumas pessoas mais fortes, outras mais fracas, mas ninguém escapa. E eles (os problemas) não vêem a nós por acaso. Algum motivo há de ter. E seja qual motivo for, não é empurrando-o para os outros que vamos solucioná-lo. Muito menos culpando ninguém.

Fácil não é, e ninguém tem a pretensão de que seja. Mas se, antes de procurarmos justificativas para os nossos erros, olharmos dentro de nós mesmos como eles começaram, com certeza teremos menos dificuldades para resolvê-los.

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