Sinceridade não é grosseria

20 de Maio de 2015
Valdete Braga

Valdete Braga

Abomino falsidade, mas tenho igual aversão à sinceridade cruel. Está cheio de pessoas por aí deturpando a palavra, e o mais triste é que muitos nem se dão conta disto. Frases como “eu sou assim”, “este é o meu jeito”, etc, são usadas como paliativo para justificar atos, impensados ou não, que magoam o outro. Estas pessoas não entendem que estão sendo egoístas, forçando ao outro uma aceitação para a qual ele pode não estar preparado.

Todo mundo “é assim”, de certa forma. Cada qual tem o seu jeito, e tem o direito de ter, mas este direito termina quando esbarra no direito do outro. A amiga chega toda feliz com um vestido novo e a “sincera” lhe atira no rosto “nossa, você ficou uma baleia com essa roupa”. Outro está levando o companheiro de carona e o carro quebra. O “franco” solta a pérola “eu devia ter vindo de ônibus, esse seu carro é uma porcaria”.

O pior de tudo é que pessoas assim, tão orgulhosas desta suposta “franqueza”, passam pela vida magoando os outros e se achando o máximo. Além de não sentirem culpa, ainda se arvoram do mal que fazem aos “amigos”. Sinceridade? Dez. Franqueza? Mil. Sensibilidade? Zero. Humanidade? Menos um milhão.

O exemplo do vestido nem merece comentários, porque além da absurda falta de educação, esteja a pessoa “baleia” ou não, por fora, o que importa é como ela se sente. Já o caroneiro poderia dizer exatamente a mesma coisa, com uma frase no estilo “você não acha melhor virmos de ônibus, até você ter condições de fazer uma manutenção no carro?”

Ah, mas se ele falar assim, não vai ter graça. Não vai mostrar o quando é sincero e franco, o quanto não mede as palavras, não tem papas na língua, etc. Ah, “fresca” é aquela pessoa que se abala, que se ofende ou fica magoada com um grito do outro que grita “porque é o jeito dele”. Bonito, “macho” é sair magoando a torto e a direito, falar palavrão, gritar, porque “eu sou assim”.

Não! Mil vezes não! Educação não é frescura e grosseria não é, nunca foi e nunca será sinceridade. Isso é desculpa de quem não quer mudar e não respeita o outro. Somos o que somos, e temos o direito de ser, mas temos também o dever de respeitar quem não é como nós. Ninguém tem obrigação de pagar pelo mau humor do outro. Ninguém tem o direito de agredir ninguém, só porque “é assim”. Pessoas assim acabam sozinhas, ou em trio: ela, sua sinceridade e sua franqueza. O resto do mundo não suporta por muito tempo.

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