Por Paulo Felipe Noronha
O programa Big Brother Brasil é absolutamente execrável, mas ao contrário daqueles que o consideram execrável por ser um produto midiático deliberadamente manipulativo, vazio de sentindo, o considero execrável não por causa de qualquer responsabilidade da empresa que o produz aqui no Brasil, no caso a Rede Globo de Televisão, mas sim pelo fato de o programa expor, em certa medida, a realidade cultural de cidadãos comuns, os anseios destes, e refletir toda a vulgaridade que permeia a mentalidade dessa gente que baba diante da telinha. Para aquele que assiste arrebatado, como mero passa-tempo, à ode de idiotice e aos mais abjetos conceitos do que é a interação social, só posso lamentar. É a disseminação do “barraco” e da “fofoca” como cultura de massa, e muito pior, como modelo e ideal de comportamento.
É, afinal, um revelador do nível da pobreza não apenas intelectual, mas também moral, que existe em cada país onde o programa é transmitido. Mas a recente edição ofereceu um “algo mais” para reflexão: um suposto caso de estupro, ao vivo.
A cultura latina é tida como “machista”, ao contrário, por exemplo, da norte-européia (não que eu considere o modelo de lá o correto, pois não o considero, em absoluto) e um dos problemas existentes nessa prevalência machista é exatamente a culpa imputada sobre a mulher pelo que lhe ocorre, como no caso recente, em que uma participante, espontaneamente, e após interagir romanticamente com um outro participante do programa, foi dormir na cama deste, agarradinha.
Não vou questionar a “idiotice” implícita no ato da mulher, e de tantas outras como ela, de se colocar nessa situação, “bêbada e a disposição”, que é tida pelo feminismo como um direito (o que não discordo). Contrapondo com analogias simplistas, é direito de qualquer pessoa fazer equilibrismo à beira de um penhasco, passear em zonas de conflito armado ou qualquer outra liberdade de ir e vir que se queira invocar, mas a realidade não se conforma com o ideal que fazemos de como as coisas devam se processar, e querer sistematizar essa realidade deixa de ser ideologia à certa altura, para virar simples ingenuidade.
Vou sim, falar sobre o absurdo de permissividade da própria sociedade, em que alguns ainda defendem o comportamento do bolinador, onde o sujeito pode abusar de outra pessoa, apenas por se apresentar situação oportuna. Junte-se aí a paranóia social, que procura justificativas no racismo (ele era negro) para questionar a validade ou não da acusação, e temos um cenário desalentador, onde de um lado se alinham escroques e do outro, neuróticos.
A etnia do criminoso é irrelevante, tanto quanto é irrelevante se a mulher estava bêbada ou não, ou se ela tinha retribuído o flerte antes. Ela estava dormindo, e até onde eu saiba, sexo com alguém dormindo continua sendo um ato questionável do ponto de vista moral, e do legal também! É essa falta de moralidade que é atirada na nossa cara a cada Big Brother, e nesse exemplo extremo, vemos a precariedade em que vive nosso povo quando precisa conceituar o certo e errado. E para combater essa pobreza moral, o primeiro passo é a preservação do núcleo familiar, que me perdoem os “libertários”.
Enfim, do jeito que a coisa anda, a visão relativista de mundo vai se converter num flagelo tão danoso quanto os próprios conceitos deterministas que ela visa, ou seja, do “nada pode”, passaremos ao “tudo pode”.