Existem pessoas que são imprescindíveis!

19 de Setembro de 2014
Jornal O Liberal

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*Israel Quirino

Em uma época em que o estudo em nível médio era privilégio de poucos, tempos em que Mariana viu migrar de seus dominós geográficos o Colégio Arquidiocesano, ergueu-se uma voz em defesa da educação na terra berço da cultura mineira: Padre Avelar.

Pioneiro como Dom Frei Manuel da Cruz, Padre Avelar ocupou-se em dar um destino à juventude marianense com formação profissional. Não mediu esforços, não se abateu diante das dificuldades, combateu o bom combate. Um homem que fez da educação um sacerdócio e que fez do sacerdócio um ato de educar. Grande em sua humildade, hercúleo em sua fragilidade, sábio, santo, indefinível.

Com sua batina negra surrada, seu jeitão caipira de andar e falar, olhos miúdos por detrás de lentes grossas esverdeadas que não escondiam a inteligência, a perspicácia, a sabedoria do mineiro e, mais que isso, no peito um coração sem tamanho e uma alma dedicada a servir ao próximo. Um autêntico Servo de Deus, do qual, Deus, com certeza ainda se orgulha.

Vindo lá de Lagoa Santa, percorreu várias instâncias de cultura e fé pelo mundo afora, mas foi aqui que encontrou pousada por escolha. Edificou aqui um panteão de amigos e admiradores. Adotou Cachoeira do Brumado como sua terra e dedicou-se a educar a juventude. Pôs a mão na massa, edificou com pedra e cal uma escola que já havia construído em credibilidade e plano educacional. Firmou-se na história de tantos e tantos marianenses como professor, protetor, Santo Homem de Deus.

Aqueles que já viram branquear os cabelos, naturalmente se lembram de um homem de preto, caminhando cabisbaixo em direção à sua escola na Rua do Catete. Ali lecionava qualquer conteúdo, em qualquer nível de ensino. Era amigo, pastor, corregedor, mestre, confessor. Tinha nas mãos um toque mágico de fazer florescer. Mantinha a alma em constante oração, e tinha um canal permanente de diálogo com Deus. Abençoado. Pobre por opção e rico na fé.

Pelas ruas deslizava incansável com uma sombra. O peso dos anos, que lhe tornava mais lento o caminhar não lhe diminuíram a coragem e o ânimo. Alguém do nosso tempo o definiu como o “único anjo que se veste de preto”. Mas não eram negros seus pensamentos, nem escuros seus caminhos, apenas as vestes.

Seus olhos adoentados não o impediam de ver além da história, das portas que nos abria e das outras tantas que nos ensinou a abrir. A visão deficiente só o impedia de enxergar as dificuldades. Não conhecia o impossível. Nele encontrei a alma dos rios: se não poderia afastar os obstáculos, humildemente os contornava e seguia em frente. Firme, decidido, operário de todos nós. Externava uma fragilidade que não lhe definia o caráter, tal a determinação com que defendia seus propósitos. Tinha os olhos em Deus e Deus olhava sempre para ele.

Santo Padre Avelar nasceu em 28 de agosto de 1898 e se foi em 09 de junho de 1991. Como um cometa que passa, deixou para traz um rastro de luz a iluminar a todos nós. Este era, com certeza, um daqueles homens a quem Bertold Brecht definiria como imprescindível.

*Irael Quirino é professor e advogado

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