Homem Feito!

09 de Novembro de 2014
Valdete Braga

Valdete Braga

Uma amiga estava muito chateada porque o filho de 17 anos ameaçou sair de casa. O garoto é um adolescente comum, com os arroubos comuns de adolescente. Ela sempre comenta que tem uma família abençoada, que apresenta os problemas comuns do dia a dia, mas o marido é um homem correto, dedicado a ela e aos filhos e os filhos nunca deram problemas maiores. Desentendimentos e discussões são comuns entre pessoas que se amam e quando eles acontecem são resolvidos. Em um mundo onde imperam drogas e violência entre jovens, seus três filhos são bênçãos de Deus, ela sempre diz, e para quem conhece é fácil concordar. Por isso ficou surpresa com a atitude do filho. Tiveram uma discussão, ele foi contrariado por uma decisão dela e saiu com essa de “vou embora desta casa”. Disse que já era homem feito e não precisava ficar dando satisfação do que fazia.

Conversamos longamente, ela desabafou os problemas, repetindo, comuns a qualquer família normal, e saiu mais calma, dizendo que daria notícias. Alguns dias depois, já estava tranqüila e me disse que tudo estava resolvido. Eu não perguntei detalhes. Por mais amiga que sejamos de alguém, há questões que devem partir da pessoa. Se ela quisesse falar, eu estaria à disposição para ouvir, mas jamais iria perguntar por mera curiosidade. São intimidades que só dizem respeito a ela, mesmo sendo minha amiga.

Não deu outra. No final de semana nos encontramos e ela me contou que conversou com o marido e eles combinaram como agir. Como não podia deixar de ser, o “homem feito” perguntou à mãe se ELA tinha mudado de idéia com relação à proibição (ah, a sabedoria dos 17 anos...) e ela respondeu calmamente que não, que a atitude dela estava tomada e não iria autorizar o que ele queria. A resposta foi imediata: “então vou mesmo sair de casa”. Ela disse que tudo bem, e perguntou onde ele iria morar. Pego de surpresa, o topetudo respondeu que “em alguma república”, com amigos. Mantendo a calma, a mãe perguntou ao filho de 17 anos, estudante, se ele iria ajudar os amigos no aluguel, se já tinha providenciado alguém para lavar sua roupa ou ele mesmo o faria, aonde iria se alimentar, etc, etc, etc. Tudo na maior calma.

Enquanto ela falava, eu imaginava a carinha de surpresa do garoto e morria de rir. Quando ela perguntou se “em alguma república” já tinha móveis ou ele teria de comprar, ele disse que levaria os do seu quarto. Ela respondeu: “de jeito nenhum”. O seu quarto vai ficar intacto nesta casa. Um “homem feito” que não precisa dar satisfação de seus atos se mantém por conta própria, inclusive financeiramente. O quarto desta casa é do meu filho menor de idade, que vive sob o meu teto e minha responsabilidade. Aliás, minha e do seu pai, com quem já conversei sobre isso e que concorda comigo.

Obviamente, o adolescente não deu o braço a torcer na hora, mas enrolou, despistou, obedeceu ao que tinha de obedecer e no frigir dos ovos tudo continuou como sempre. Cumprimentei minha amiga pela maneira como enfrentou a situação e acabamos dando risada do episódio. Brinquei com ela: “isso pode virar crônica?” Ela deu uma risada antes de responder: “claro, deve haver outras mães que passem por isso”. Eu respondi: “e filhos também”.

Comments powered by Disqus

Newsletter

Acompanhe-nos

Encontre-nos no Facebook