Juízes e Algozes

18 de Novembro de 2011
Valdete Braga

Valdete Braga

Poucas coisas me incomodam nesta vida. Uma delas é a capacidade que o ser humano tem de julgar o outro. Alguns julgam, condenam e ainda dão a sentença. A vizinha que chega tarde em casa porque estava “aprontando” com o namorado e por isso não é “coisa que preste”, o funcionário que atrasa o serviço e por isso é preguiçoso, o patrão que chama a atenção do funcionário e por isso é ditador...

Julgam, simplesmente. Sem se preocuparem com os motivos que levam ao erro do outro, que as vezes nem erro é, dependendo do contexto. Julgam de acordo com o seu ponto de vista e condenam também de acordo com o mesmo. Não se preocupam em ouvir, avaliar, entender. Os motivos do outro não existem, só o daquele que se sente o dono absoluto da verdade universal.

Isto me incomoda. Tirando raras exceções, cada ser humano tem uma razão para fazer o que faz, e se o que faz não prejudica a outros, ninguém tem nada com isso. Ninguém tem o direito de julgar, muito menos condenar. E se a vizinha estava em uma festa, se divertindo, curtindo saudavelmente a sua juventude, depois de um dia exaustivo de trabalho? E se o funcionário atrasou o serviço porque estava com a cabeça voltada para o filho doente que deixou em casa com a esposa? E se o patrão chamou a atenção do funcionário porque ele realmente foi relapso? Um simples diálogo pode resolver questões que acabam criando climas horrorosos entre as pessoas.

Se, em lugar de ir logo condenando a pior, a pessoa desse ao outro o direito de ser ouvido, muita coisa seria evitada. Mas e o orgulho? E a prepotência, principalmente daqueles que ocupam algum cargo, ou qualquer tipo de suposto poder que o faz sentir-se “mais” do que o ser humano que tem à sua frente?

Nos exemplos citados, o caso da vizinha é fofoca mesmo, falta do que fazer. Mas existe muita gente por aí – e como existe – que faz jus àquele ditado antigo mas super verdadeiro: “sobe no tijolo e quer fazer discurso”. Triste isso.

Obviamente, existe também o contrário, pessoas que acham que porque o outro está supostamente “acima” dele já tem que ir jogando pedras. Aí entra de novo o julgamento.

Viver é uma coisa tão simples! Deveria ser tão óbvio isso! É tão evidente a semelhança entre todos nós. Nascemos igual, morremos igual, por que no meio criamos tantas diferenças? O sujeito pode ter milhões no Banco e o outro ganhar salário mínimo, o indivíduo pode entrar na empresa como chefão todo poderoso porque é o filho do patrão e o outro estar lá como auxiliar de alguma coisa há anos seguidos. Eu pergunto: e daí? Não sorriem igual, não choram igual, não sentem dor igual, não estão sujeitos às mesmas doenças, às mesmas paixões, às mesmas tristezas e alegrias?

Por que sentir-se tão superior com um poder ou dinheiro ou fama que não vai levar a lugar algum? Nossa passagem por aqui é tão curta, e alguns ainda insistem em fazer dela algo ruim. Pisam o outro, humilham magoam, e – o mais triste de tudo – sentem que são mesmos superiores.

Pobres desses juízes donos da verdade. Quando descobrirem o verdadeiro valor da vida poderá ser tarde demais.

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