Lama político-empresarial

21 de Janeiro de 2015
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Mais uma vez, eis-nos todos a recomeçar rotineira volta ao sol como habitantes deste maltratado planeta. Muitos estão nas primeiras voltas, cheios de vitalidade, ansiosos e desejosos que etapas, marcadas mais à frente, se aproximem mais rápido; outro tanto se encontra no meio da jornada natural, perdido entre o que fazer, como fazer e para que fazer, tão absorto na ideia do ter que, ao contrário de quando percorria as primeiras, avalia como cada vez mais rápidas as voltas em curso. A partir daí, gradativamente reduzido o grupo na contagem de mais voltas, estas continuam rápidas, tendo porém como causa a fixação no ser, quando pouco resta para correr.

Neste país, grande, bobo e irresponsável, sob as rédeas de um governo claudicante e requentado, o espaço a percorrer mais curto deverá parecer, tendo em vista a descoberta e investigação dos assaltos que se fazem contra a receita e patrimônio públicos, dos quais se destaca a maior empresa nacional no escândalo dos escândalos de corrupção de todos os tempos. Pelo menos, enquanto grades presidiais não os isolarem, quando o tempo parecerá ter reduzido sua marcha, o desespero na espera do desfecho, dará aos envolvidos a sensação de rapidez, porque tempo não mais haverá de voltar atrás.

O fenômeno da corrupção não é novo, podendo ter se iniciado, quando dos porões das primeiras caravelas, aqui aportadas, desceram ratos. Não obstantes denúncias e advertências, ao longo da história, sobre a fragilidade moral brasileira, na relação com o bem coletivo, longe de se refrear, a corrupção se avoluma e mais descarada se torna, no suceder das gerações. A literatura é pródiga em exemplos de como a instituição pública é vista, de modo geral, pelo cidadão. Grandes e médios potentados tupiniquins, enquanto jogavam com a sorte das filhas casadouras, arranjando-lhes casamentos de acordo os interesses paternos, valiam-se de influências na área política para conduzir o filho mancebo, quase sempre avesso ao estudo, na obtenção de alguma sinecura na máquina administrativa do estado. Ao longo do tempo, do ganhar com pouco ou nenhum trabalho no serviço público, comodidade e preguiça evoluíram para cobiça e ganância, chegando ao estágio atual, no qual os apanhados com a boca na botija já não se satisfazem com status, poder de influência e polpudos salários. Têm que meter a mão no erário como se coisa sua fosse! Encurralados pelas investigações e conscientes de que nada mais têm a perder, ou melhor, até ganham indulgências, ainda que não plenárias, sobre as penas de seus pecados, alguns já abrem o bico. Se, em outros escândalos, a confirmação dos delitos partiam de arrependidas compartilhantes do mesmo leito, no caso da petroleira, a confirmação vem pela incontinência verbal do dedo-duro; de confidente, na prática do crime, passa a inconfidente, em troca de alguns anos a menos atrás das grades, se condenados forem. Outra vez confirma-se: companheiros de crime não são amigos, apenas criminosos, mais, ou menos perigosos! Corrupção sempre há, em todo o tempo e lugar, como característica da face menos nobre do ser humano, cabendo, entretanto, ao Brasil o prêmio pela impunidade e até mesmo glamourização desse tipo de crime. Ao passar pela impunidade, o mais grave, no Brasil, é que a corrupção se institucionaliza, para garantir votos na aprovação de projetos no Congresso Nacional, como o caso do escândalo conhecido como “mensalão”. E, no caso em curso da empresa petroleira, partidos da base governamental são flagrados a fazer caixa, mediante cobrança de “pedágio” sobre valores desviados por corruptos e corruptores.

Não mais se trata de corrupção eventual, movida pelo desvio de caráter individual ou de pequeno grupo isolado, mas organizada e dirigida por quadrilha de grandes empresários aliados a empregados da empresa vítima com propósitos de lucros ilegais, sob o beneplácito pago por partidos, cujos propósitos políticos ficam em dúvida, sob o manto de atividades também ilegais.

Com este escândalo a moral pública brasileira vai ao fundo do poço, de onde não se erguerá tão facilmente, mesmo porque, aqui, depois de um escândalo de corrupção sempre vem outro pior. A única coisa que poderia levantar este país da lama em que o jogaram é a reforma política. A dúvida está em a quem encarregar sua implementação, pois dos políticos que aí estão não se espera outra coisa que não ligeira faxina, que não comprometa o que se encontra debaixo do sofá! O Brasil clama pelo arrasamento desse arcabouço político, podre e, por isso mesmo, fator de insegurança para toda a sociedade, que não consegue estudar, não consegue trabalhar, não consegue produzir, não consegue viver sem esperança!

PARTIDOS POLÍTICOS JÁ FIZERAM MAL DEMAIS À HUMANIDADE!

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