Mais partidos políticos e menores esperanças

05 de Outubro de 2013
Jornal O Liberal

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Mauro Werkema

Há ampla concordância em toda a sociedade brasileira que a razão principal da crise nacional está na má qualidade de sua classe política. E que a raiz de tudo está nos partidos e suas escolhas, ou seja, a indicação de candidatos inadequados, sem exame de currículos, de vocações, de espírito público, de honestidade pessoal, de compromisso com as causas coletivas e públicas. E, por isto, temos o Congresso Nacional que possuímos, comandado por políticos condenados pela opinião pública. E que lotearam os governos, em todos os níveis, com raríssimas exceções, constituindo o que se tem chamado de “governos de coalizão”, ou seja, cada partido, por menor e menos representação que tenha, adquire seu quinhão, sua cota, em troca do apoio no parlamento. E com liberdade para nomear e gastar com seus apaniguados, pouco importando o interesse público. É o que vemos, o que assistimos, o que comprovamos todo dia.

O Tribunal Superior Eleitoral tem registrados 37 partidos. E acaba de registrar mais dois: O Partido Republicado da Responsabilidade Social e o Solidariedade. Outro, em formação, a Rede, de Marina Silva, pode vir a obter registro. No Congresso, tem assento 27 partidos, o que significa que o governo, para formar maiorias capazes de votar suas iniciativas, tem que convencer ou gratificar as agremiações menores. Assim tem sido: além de lotear o governo, ainda tem que, a cada votação importante, oferecer recursos para cada parlamentar, sob o disfarce de emendas parlamentares, como também realizar nomeações, liberar recursos e muitas outras benesses.

Destes 27 partidos, não mais do que sete são agremiações de maior porte, com representação em todo o território nacional. O que também não quer dizer que têm ideologia, base doutrinária, compromisso programático, código de ética de conduta. São, em geral, frentes de interesse, como é sobejamente reconhecido e comentado. Os outros, imensa maioria, são o que se chama de “partidos de aluguel”, legendas pequenas, com dois ou três parlamentares, todos a serviço de negócios. E com uma característica que, a cada dia, toma corpo no Brasil: as chamadas igrejas evangélicas são cada vez mais partidos políticos, em que os chamados pastores viram deputados, transformando seus fiéis em eleitores. E, em geral, pessoas de formação conservadora, atrasados, sem formação adequada para a representação política, sem visão de realidade ou de futuro. Esta é, infelizmente, a triste realidade, que assistimos diariamente.

O grito das ruas se dirigia principalmente contra a atual classe política. E indicou suas mazelas. Adiantou? Até agora, quase nada. A reforma política, tão discutida e tão pouco realizada, está à espera. E há absoluta e generalizada crença de que não será realizada. Até porque qualquer reforma verdadeira, realmente transformadora, seria suicídio para estes partidos menores e seus interesses. No horizonte político de hoje, a reforma política, mesmo a menos ousada, não tem oportunidade. Mas o pior é que os governos, especialmente o governo federal, está atrelado a esta realidade. A governabilidade é baixa, as manifestações do Congresso, mesmo diante de matérias importantes para o País, são lentas e tem que ser negociadas, o custo público é extraordinário, a corrupção nasce deste quadro como também os desvios do dinheiro público.

Este é o quadro político brasileiro, País de amplas vocações, potencialidades e riquezas mas com uma elite pobre, sem compromisso nacionalista, sem posturas de real vontade para com a construção de uma nova ordem política, econômica e social, sem consciência social. E que, de uma maneira geral, se beneficia justamente deste quadro de facilidades, em que é fácil corromper políticos, pois eles estão justamente a serviço desta realidade. Entra e sai governo e o quadro é o mesmo e, na verdade, vai é piorando. Transformar o País, realizar as transformações necessárias, implantar ética e moral no trato das coisas públicas, são hoje utopias de quem ainda tem esperanças, cada dia mais dispersas, de vermos um Brasil desenvolvido, com redução das disparidades pessoais e regionais de venda, desenvolvido, justo e progressista. Esperemos.

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