Ouro Preto: ruínas antigas e ruínas modernas

20 de Outubro de 2013
Jornal O Liberal

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*Rodolfo Koeppel

Há inúmeras histórias em Ouro Preto sobre tesouros perdidos, túneis secretos, mapas sobre coisas escondidas, imagens de santas em lugares estranhos e figuras humanas emocionantes. Só isto já pode atrair turismo de qualidade, por muitos dias.

Tem o túnel ligando a Casa dos Contos com o Palácio do Governador. Túnel este cuja entrada secreta começa no telhado da Casa dos Contos e não no porão, como seria normal. Éramos muito criativos!

Aliás, a procura de tesouros sempre foi algo fascinante em Vila Rica. As pessoas ficavam ricas de um dia para outro. Tinham “bamburrado”. E também ficavam pobres de repente: bebida, mulheres, jogatina. E, claro, ninguém contava para ninguém onde tinha escondido o “seu” ouro. Estamos em Vila Rica! Comida não tinha, mas tinha ouro, muito ouro. Falar sobre isto era atrair a cobiça de todos. E assim, dizem, existem ainda muitos tesouros em Ouro Preto. Guardados e escondidos... à nossa espera.

Temos ruínas antigas: no Vale dos Tropeiros, entre Glaura e Maracujá, existe uma magnifica ruína – uma grande casa e dezenas de casas menores, todas em pedra. Na casa principal, que tem um portal de entrada maravilhoso, com mais de cinco metros de altura, onde nasceu um pau d´óleo no alto da parede, uma árvore magnífica, centenária. E no entorno das ruínas, fica claro que tudo foi escavado. Teria sido achado algum tesouro? Ninguém sabe...

Aliás, não se conhece muito bem o que existia neste local. Alguns acham que era um mosteiro. O que é pouco provável, pois Portugal havia proibido que isto fosse feito no Brasil. Mas era um vale escondido, longe de tudo. Pode ser. Está lá, há mais de duzentos anos... Quem sabe?

Outros dizem que era um quartel. É mais provável. Mas perto dali, em Cachoeira do Campo existia o Palácio do Governador, depois sede original onde foi criada a Polícia Militar de Minas Gerais. E, há muitos anos, foi transformado no Colégio Dom Bosco, dos padres salesianos, que tanta gente boa formou para o Brasil. Por que se construiria um quartel tão próximo e tão escondido?

Mas temos também ruínas modernas, potenciais: recentemente, os padres se afastaram, depois de tentar vender para empresas imobiliárias o histórico Colégio Dom Bosco. A ação enérgica do povo de Ouro Preto, em especial de Cachoeira do Campo, obrigou ao cancelamento do negócio. Os padres, infelizmente, alugaram para um empresário. O qual, como bom empresário, procura o lucro. E, sem nenhuma preocupação com o patrimônio histórico, transformou o magnífico colégio, imenso e até agora bem conservado, em alojamento para trabalhadores nas minas da Vale.

Quanto tempo o Colégio Dom Bosco resistirá ao novo uso? Agora mais de quatrocentas pessoas moram lá, nos mais de duzentos apartamentos do Colégio. Está fechado para visitantes. Sequer se pode conhecer, algo que é muito bonito, com o seu jardim interno e suas instalações únicas. Perdemos nós um tesouro. Perdeu Minas Gerais um tesouro. Perdeu o Brasil um tesouro... Mas ainda pode ser salvo.

Hoje existem coisas que valem mais do que ouro. Nossa rica história é apenas uma delas. Os nossos segredos também são ricos...

Retornando às ruínas antigas, você só vai vê-las se vier pela estrada de terra, vindo desde Glaura até o Maracujá. Ótimo caminho para caminhadas, cavalgadas e ciclismo, pois é quase tudo descida ou plano. E, ao final do passeio, vai ver como o Maracujá é um lugar divino: quadras de futebol, tudo verde e bonito. Muito bem cuidado. E melhor ainda: tira-gostos dos deuses, servido pelo Ratinho.

Já vir do Maracujá para Glaura, você vai passar e pode nem ver as ruínas, pois ficam numa reentrância escondida entre montanhas. E você vai suar a camisa, pois será uma subida para você pagar os seus pecados, todos de uma única vez...

Para que foi construído este local, hoje magníficas ruínas? Quem sabe um dia alguém desvendará mais este segredo de Vila Rica?

*Rodolfo Koeppel, economista, é morador de Glaura e convive em Ouro Preto a mais de meio século. Há 10 anos promove o Glaura Musical, um evento cultural / musical / gastronômico / turístico. Já trabalhou com os artesãos de pedra sabão em Ouro Preto, Mariana e Catas Altas da Noruega. Está envolvido em projetos de turismo em Ouro Preto.

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