Me poupe, quantas vezes for necessário!

03 de Junho de 2014
Valdete Braga

Valdete Braga

Em uma discussão sobre política (que eu evito ao máximo) um dos debatedores cobrou a minha participação. Respondi que preferia ficar à margem, porque este tipo de briga não leva a nada e só desgasta a quem entra. Um dos mais fanáticos do grupo disse que eu “não ligava” para política porque eu era “direitona brava”.

Gente, eu??? Direitona??? Brava??? O que um ano eleitoral não faz. Pior é que, se a intenção era me forçar a discutir, o danadinho conseguiu. Pelo amor de Deus! Coisa irritante isso de que só existe esquerda e direita em um país. Mais irritante ainda é achar que quem não é um tem de ser o outro. Mais irritante do que irritante é achar que basta não passar fome para ser “direitona”. E “brava”, ainda por cima. Me poupe!

Sou uma trabalhadora, que conseguiu, graças a Deus, chegar a um ponto estável na vida. Consegui com meu esforço, trabalhando dignamente e ralando muito. Não sou rica, estou longe disto. Não tenho investimentos e mais investimentos bancários, mansão ou carro de luxo. Mas tenho o que me basta para ser feliz: teto, roupas, sapatos, comida na mesa, e lazer de vez em quando. Isto é ser “direitona”? O maluco falou no sentido financeiro também.

Precisamos acabar com esta mentalidade de que quem não precisa de bolsas do governo prá viver é “rico”, “direitona”, etc. Alguns chegam ao cúmulo de usar a palavra “elite”. Então só existem duas classes sociais? Os que não têm nada e os que têm tudo? Então trabalhar 30 anos para ter uma condição digna de vida é reprovável? Só é “digno” quem é necessitado? Me poupe de novo! E vamos discutir, então. Comecei a falar e o provocador deve ter se arrependido do comentário. Contei prá ele (que já sabe) toda a minha vida desde o nascimento. E quando ele tentava interromper eu dizia “espere um pouco, foi você que me acusou de não participar da conversa”. E dá-lhe conversa!

Fico irritada com esta mentalidade “quem não é pobre é rico”, “quem não é esquerda é direita”, etc. Aliás, em minha santa ignorância política, direita é quem está no poder. Para leigos como eu, a coisa é bem simples: situação do lado de dentro e oposição do lado de fora. Não me preocupo em procurar rótulos, demagogia de quem quer voto em ano eleitoral. Chegamos a um ponto em que para alguns (e eu digo alguns, sem generalizar, embora acredite que sejam maioria) se a pessoa não venerar o Lula é “direitona brava”. Me poupe, pela terceira vez e quantas vezes for necessário. Pregam democracia só para quem pensar igual. Pensou diferente, é “direitona”. Que coisa!

Lula usa ternos importados, toma uísques muito mais velhos do que ele, colocou filhos para estudar no exterior, e é “povo”. Quem rala uma vida inteira e consegue uma vida confortável é “rico”. Gosta do Lula? Esquerda. Não simpatiza com ele? Direita. Esquerda são os mocinhos, direita os bandidos. Esquerda democracia, direita ditadura. Continuo com a minha ignorância de achar que direita é situação e esquerda oposição, seja qual for a sigla do partido.

Tenho pavor à ditadura. Nossa liberdade não foi conquistada de um dia para o outro e temos de lutar por ela. Liberdade é democracia, óbvio. Ditadura, jamais. Mas me arrisco a dizer, dentro da minha ignorância política, que se for possível uma ditadura ser pior do que a outra, a de esquerda o é. Não me cobrou participação? Então aguente!

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