Não confundamos as coisas

28 de Abril de 2016
Valdete Braga

Valdete Braga

Diante do absurdo que o Brasil inteiro presenciou no último domingo, entre os comentários, li uma frase, na internet, que chamou-me a atenção. Quando decidi fazer esta crônica, voltei às páginas que costumo ler, para procurar o autor, mas são tantas, que não encontrei mais. A pessoa escreveu: “liberdade de expressão não é liberdade de ofensa”. Grande verdade. De fato, liberdade de expressão é um bem sagrado, não apenas por ser garantido pela Constituição, mas porque é o que nos define. O ser humano é o único filho de Deus dotado da fala, e com certeza Ele não nos deu este dom para sairmos falando bobagens por aí.

Temos sim o direito à livre expressão. Ninguém precisa pensar como o outro, mas precisa respeitar o pensamento diverso do seu e principalmente o direito do outro de expressá-lo. As opiniões e idéias podem ser absolutamente contrárias, mas o direito de expressá-las é de todos, e isto não vale só para a mídia. Desde dentro de sua casa, na sua rua, na sua escola, no seu trabalho, em jornal, revista, televisão ou rede social, todos somos livres para nos expressarmos. No Congresso Nacional, então, este direito precisa ser inquestionável, já que, pelo menos teoricamente, ali estão os nossos representantes.

Mas, como diz a frase que eu li, “liberdade de expressão não é liberdade de ofensa”. Muito bem falado, isto! Uma coisa é expressar-se contra ou a favor de alguém ou alguma coisa; outra, infinitamente diferente, é ofender o outro. É tão diferente que, se a ofensa vier de mentiras, é crime. E, para quem vive em sociedade, mesmo que venha da verdade, a verdade de um pode não ser a do outro. Há ofensas que podem (e devem) ser ignoradas, de tão mesquinhas que podem ser. Xingamentos infantis, fofocas por motivos rasos, etc. Não é disto que falo. Falo de ofensas que denigrem caráter, que maculam imagem ou afetam família. Aí o caso é outro, e bem mais grave.

Publicamente, diante de um país estarrecido e transmitido para o mundo inteiro, como o caso em questão, é assustador. “Autoridades” de dedo em riste, se atacando como galos em rinha, e, se não bastasse, ofensas homofóbicas e racistas nos bastidores. Isso é liberdade de expressão?

Palavras podem ferir mais do que armas. Aliás, palavras podem ser armas, empunhadas, muitas vezes, contra o próprio peito. Usar a “liberdade de expressão” como “liberdade de ofensa” pode se voltar contra o próprio ofensor. Essa história de “falar primeiro e pensar depois” pode valer para crianças, mas parlamentares, homens públicos, em um dos momentos mais importantes para qualquer nação, destilar rancor e ódio, em nome desta “liberdade” é inaceitável. O tiro saiu pela culatra. E não poderia ser diferente.

Comments powered by Disqus

Newsletter

Acompanhe-nos

Encontre-nos no Facebook