Não dou conta

28 de Outubro de 2016
Valdete Braga

Valdete Braga

Comecei a assistir, junto com amigos, um debate político. Dez minutos depois, mudei de canal. Pronto! Estava sendo alienada, desmotivada, desinteressada pelo que acontece no país e outros adjetivos correspondentes. Quer saber? – Respondi – então, que seja. Vou assistir a um filme.

Não dou conta. A situação não vai bem e todo mundo sabe, mas de uns tempos para cá, alguns, infelizmente, crescentes, comentários, simplesmente não dão para engolir. Não entro no mérito partidário, não quero saber se a corrupção vem do partido do governo ou do da oposição; o que já extrapolou todos os limites do bom senso é esta história de “os do meu partido são inocentes, os do partido rival são culpados”. Há momentos em que parece que quem comete a corrupção é a sigla e não pessoas que estão politicamente ligadas a ela. Até a frase “é impossível fazer parte da política sem roubar”, eu ouvi. E – pasmem – ela foi dita por um militante dos mais ativistas, e não por um alienado como eu. De qual partido? Não importa. A frase, em si, é absurda.

Dos dois lados, o que não falta é gente tentando justificar o injustificável. E eu sou obrigada a ficar assistindo brigas alheias? A “me informar”, a ver programas de televisão, sites ou blogs que, salvo raras exceções (existem exceções ainda, graças a Deus) juram sob a Bíblia a inocência dos que defendem e a culpa dos que acusam? Sou obrigada a ouvir “é impossível fazer política sem roubar” e continuar na conversa? Não, não sou! Para este tipo de mentalidade, viva a minha alienação! Vou assistir “Malévola” e deixo a discussão política na outra sala.

O que não faltam nos dias atuais são “entendidos” sobre política. Todo mundo sabe, entende, justifica, defende, acusa... todo mundo é expert! Assistiu aqui, leu ali, conectou acolá... pois eu não tenho a pretensão de saber tudo. Assumo isto e não entro em discussões, se não tenho embasamento para apoiar minha opinião. Dizer “eu não sei”, é muito mais digno do que defender ou acusar sem saber o quê, baseado apenas em uma sigla partidária. Deixei a discussão que, eu sabia, fatalmente terminaria em briga, para os “entendidos” em uma sala, enquanto Malévola voava entre os dois reinos, na outra.

Divertia-me “alienadamente” em uma parte de casa, enquanto brigas, agressões e ofensas aconteciam, “lúcidas”, em outra.

A certa altura, para desanuviar, gritei lá para dentro: “passem longe das facas da cozinha, meninos!”. Alguém comentou que o assunto era sério e eu respondi que o assunto até podia ser, mas que a briga estava simplesmente ridícula. Não vejo outra palavra para definir uma briga onde os dois lados estão com a verdade absoluta. Se ambos são perfeitos, qual o motivo da desavença?

É óbvio que eu não sou alienada, nem desmotivada e que me interesso pelo que acontece em meu país, sim! Apenas já passei da fase de precisar provar isto. E, sinceramente, em certos níveis de discussão, nem vale a pena.

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