Não é sério

02 de Maio de 2016
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Le Brésil n’est pas um pays serieux/o Brasil não é um país sério. Maldosamente atribuída ao então presidente da França, Charles de Gaulle, na verdade, esta frase foi dita pelo embaixador brasileiro naquele país a um jornalista, também brasileiro, durante encontro social na embaixada. O jornalista telegrafou ao seu jornal no Rio, citando-a, mas sem o cuidado de citar o autor. O jornal, por sua vez, claramente a açular a opinião pública contra os franceses, atribuiu-a ao Charles de Gaulle. Era janeiro de 1962, um pouco antes do carnaval, quando os estavam andavam acirrados contra pesqueiros franceses, que estavam a pescar lagostas nas costas de Pernambuco. O incidente, mais para a pauta de conversa diplomática, extrapolou-se, chegando à ridícula bravata do governo brasileiro, que enviou ao local um contingente da Esquadra Nacional com apoio da Força Aérea Brasileira. Daí a frase crítica do diplomata, que o Brasil ficou conhecendo como sendo dita pelo presidente francês, quando se desenrolava o imbróglio, passado à História como “Guerra da Lagosta”.

Não foi dita por de Gaulle, mas, e se tivesse sido? Embora com os brios feridos, tupiniquins teriam que aceitar, pois é pura verdade!

Também não é pessoa séria quem, tendo acompanhado a votação em torno do impedimento da presidente da República, na Câmara dos Deputados, considerou normal e aprovou o comportamento dos parlamentares. Esperavam-se manifestações curtas e sóbrias, seguidas dos votos, mas o que se viu e se ouviu provocou vergonha dentro do território nacional, e, chacota nos países que acompanham a atual e triste história brasileira. O lamentável, que é a possibilidade de ter a presidente da República impedida de continuar a governar, agravou-se com a molecagem – termo mais correto – praticada pelos parlamentares, que se esqueceram de representar o povo, nas ruas simbolizado por manifestantes das duas correntes, incrivelmente mais ordeiras do que eles, deputados. Os que menos resvalaram para impropriedades, ditas e feitas, em momento e local reservados para gesto responsável, sério e grave, que diz respeito aos destinos da nação, aproveitaram para fazer homenagens pessoais a familiares e amigos. Entre os demais, no campo das ofensas e agressões verbais, havia os que mais pareciam loucos a vociferar contra o mundo, quando não a cuspir no rosto de oponente político.

Pobre nação, que tem como representantes, na alta Câmara, os que deveriam dali estar bem distantes, se não podem dar exemplo de, pelo menos, civilidade, disciplina, bom senso, ética e serenidade! O país já sofre demais, na carne, as consequências da má administração e da corrupção. Não precisava passar mais essa vergonha!

Mas, se no parlamento políticos ratificaram a assertiva de que este não é um país sério, melhor não se fez, cá fora, entre opositores ao governo. Como manifestação política e contundente crítica a políticos e corruptos, na crista da impopularidade e à frente da atual crise, versos foram bem engendrados.

Mas, ó insanidade, tinha mesmo de estar presente na hora de se dar música ao texto? O que era para ser bem ouvido e divulgado cai no rol dos refugados, porque a música outra não é senão a do Hino Nacional Brasileiro; sim, o belo símbolo musical teve a letra substituída na infeliz paródia, produto da ignorância e incivilidade que grassam na sociedade brasileira.

Não é incomum verem-se os símbolos nacionais desdenhados, porque a ignorância os vincula ao governo, que pode ser de “A” a “Z”, e não à nação que é una em todos seus cidadãos. Se são chamados “nacionais” é porque simbolizam a nação. Se simbolizassem o governo seriam “símbolos governamentais”.

Não há muitos anos, um pároco local, coincidentemente de posição política contrária ao governo de então, proibiu a banda de música de executar o Hino Nacional na procissão de Corpus Christi, acrescentando o comentário: “não sei quem inventou isso”. Esse é apenas um exemplo da falta de conhecimento, até mesmo entre ditos doutos, sobre o que seja nacionalidade!

Voltando ao caso da infeliz paródia, nem precisava uma lei a proibi-la, pois o cidadão deveria ser consciente de que qualquer símbolo nacional deve ser usado com respeito, não se admitindo qualquer tipo de brincadeira com eles. Mas a Lei no 5.700, de 1 de setembro de 1971, elimina eventuais dúvidas com relação ao uso e respeito aos símbolos pátrios. Sobre o Hino Nacional, o Art. 34 diz: É vedada a execução de quaisquer arranjos vocais do Hino Nacional, a não ser o de Alberto Nepomuceno; igualmente não será permitida a execução de arranjos artísticos instrumentais do Hino Nacional que não sejam autorizados pelo Presidente da República, ouvido o Ministério da Educação e Cultura.

Diante de tudo isso, conclui-se que o Brasil não é mesmo um país sério!

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