NÃO PODE

12 de Junho de 2011
Valdete Braga

Valdete Braga

Correndo o risco de me tornar repetitiva, gostaria de abordar um assunto de suma importância a todos nós, ouropretanos, de nascimento ou coração.

Quem me conhece, e não é pouca gente, já que sou nascida, criada e amante desta terra, sabe o tipo de pessoa que sou: calma, tranqüila, detesto o tal do barraco e não vejo graça nenhuma em rodar a baiana. Acredito muito mais na força do diálogo.

Mas há momentos, meus amigos, em que simplesmente não há como o ser humano normal, que tem sangue e não água nas veias, não se indignar.

Imagine que você alugue um imóvel, o inquilino fique quase 20 anos, e quando sai as portas e janelas estejam literalmente ruídas, destruídas por cupins. Aí, sob pena das janelas caírem sobre algum passante e causar uma tragédia, o que você faz? Você eu não sei, mas eu troco as janelas.

Só que em Ouro Preto não pode. Tem de pedir. Tem de ter ordem. Tem de esperar autorização de A, que vai olhar com B, que vai verificar com C. Aí, se enquanto você espera todo este trâmite a sua janela cair, você responde por “dano ao bem público”. É a sua janela, a sua casa, você comprou pagando prestações a vida inteira ou construiu com o suor de anos de trabalho. Mas é “bem público”.

O mais interessante é que o bem é público e você não pode mexer nele, mas se cair, a responsabilidade é toda sua. Não pode cair, não pode trocar, não pode consertar, não pode acrescentar, não pode diminuir... vamos todos morar na rua?

Com efeito. Não quero ser repetitiva, mas bom senso nunca é demais. Atiram lixo (e lixo mesmo) no meu quintal, eu peço providências e não há nada a se fazer. Um cano rompe na rua de cima e espero uma semana até que algo seja feito. Mas se eu troco uma janela para evitar uma tragédia, em cinco minutos estão batendo na minha porta.

A minha rua está afundando, literalmente. Os moradores fizeram abaixo assinado, a imprensa veio e cobriu, existe laudo do Corpo de Bombeiros. Não entendo disso, mas quem entende garante o perigo. Uma galeria, não sei como, na rede de esgoto, coloca em risco a rua inteira. Não posso falar sobre isso com propriedade, porque não entendo, mas técnicos já confirmaram o perigo, e a rua continua caindo.

Isso não merece atenção. A minha janela é mais importante. Não deixar um Patrimônio simples, é verdade, mas construído com muito sacrifício e amor, em memória aos meus entes queridos, cair aos pedaços, é errado. Uma rua inteira ruindo aos poucos não tem importância.

A preocupação com o que está em cima é maior do que com o que está embaixo, minando tudo.

Pensando bem, eu e meus vizinhos não devíamos mesmo cuidar de nossos lares. As “autoridades” estão certas, no final das contas. Se é prá vir tudo abaixo daqui há alguns anos por desatenção com o que não é de nossa competência e nem nós temos conhecimento para consertar, prá que arrumar agora? Viremos todos sem teto, e peçamos bolsas e cotas de moradia aos que não nos permitem viver em nossa própria terra.

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