Alma Cansada

07 de Fevereiro de 2011
Valdete Braga

Valdete Braga

Tenho andado meio cansada ultimamente.

Já ouvi de tudo: para viajar, sair mais, voltar a namorar (como se as coisas fossem assim). Os amigos fazem por bem, querem ajudar, e eu sou grata.

Mas o meu cansaço não é físico, não vem de fora. Vem de dentro, é um cansaço da alma, de tanta coisa que acontece e não precisava acontecer, de um mundo hipócrita e de aparências, de pais que surram filhos, de filhos que matam pais, de alunos que assassinam professores...

Não fomos criados pra isso. Onde fica a imagem e semelhança de Deus? Há tanto para se fazer... Tanta gente para ajudar, tanto trabalho necessário para melhorar a qualidade de vida das pessoas...

E elas estão matando, roubando, torturando, destruindo... está muito na moda a preocupação com o meio ambiente, atualmente. A destruição das matas, a preocupação com o solo, etc. Concordo plenamente. Mas se nós estamos nos destruindo a nós mesmos, o que dizer do inanimado? Se o homem mata o próprio homem, o que não há de fazer com árvores e plantas?

Ando tão cansada... o correto seria cada um começar consigo mesmo, ou seja, eu teria de começar por mim, bem sei. Mas o cansaço é tanto, a exaustão de ver tantos absurdos tolhem nossas forças.

Precisamos ser fortes. Eu, você, meu amigo, meu irmão, meu vizinho,. mais do que nunca não podemos deixar o cansaço nos vencer.

Mas como eu disse: ele vem de dentro, a alma está cansada. Não o cansaço que faz doer os braços e as pernas, mas que faz doer o coração. A exaustão da injustiça prevalecendo, dos valores invertidos, do orgulho e poder vencendo a luta digna e humanitária.

A desesperança de não se poder fazer nada, não ser ouvida, não ser vista, tornar-se um ser único entre os que adoram os falsos deuses do poder, da força e do orgulho.

Não sou melhor do que ninguém. Meu Deus, quem sou eu? Se o próprio Chico Xavier se dizia um cisco, pelo amor de Deus, onde eu estou nesta escala evolutiva? Sou menos do que uma ameba. Se Jesus Cristo pregava o perdão e deu a outra face, que direito tenho eu a este cansaço?

Mas sou humana, e não estou só. O mundo está cheio de “seres únicos” como eu. Nós não somos melhores nem piores do que ninguém, nós erramos e muito (eu então, vivo colocando os pés pelas mãos, reconheço isso e sei que faz parte da minha condição de ser humano).

Mas eu luto por melhorar. Luto por um mundo melhor. Tantos como eu o fazem... E tantos estão cansados como eu. Somos seres anônimos entre a multidão de milhões que telefonam para o Big Brother, que dão gargalhadas ante a humilhação submetidas a algumas pessoas em certos programas de televisão, que postam pornografia nos sites da internet...

Nós não somos melhores do que ninguém. Eu não sou melhor do que ninguém. Só estou, como tantos que se identificam comigo, cansada demais. Cansada de não ser ouvida, cansada de não ser vista, cansada de ser invisível em um mundo colorido de baixarias.

Às vezes tento falar, alertar, e é quando me sinto pior, porque aí sou convencida de que a errada sou eu. Certo é o mundo como está. Certo é a força prevalecer à humildade, o poder prevalecer à verdade, o subir na vida pisando o outro prevalecer ao trabalho digno. Este é o nosso modelo de mundo.

Por isso a minha alma está exausta. Por isso o meu coração anda tão triste.

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