Depois das amenidades, constituídas pelas “reminiscências do Dom Bosco”, em número de nove, forma adotada pelo autor para ajudar a manter acesa a chama da discussão contra o desvio de finalidade daquele patrimônio público, histórico e cultural, voltemos aos temas mais ácidos.
Diante das incoerências políticas, protelação de soluções reclamadas pelo povo, engavetamento de projetos úteis ao bem estar coletivo, sem falar nos desmandos, desvios de verbas e superfaturamento de obras, lembremo-nos que, teoricamente, democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo. Pode ser que, em algum lugar do mundo, a prática se aproxime um pouco da teoria, mas não chega a coincidir plenamente, pois se assim fosse, políticos não seriam rejeitados, como são, até mesmo em países considerados mais sérios. Em território tupiniquim, é justamente o contrário, podendo-se dizer que democracia é o governo contra o povo, pela o povo, para o deleite de uma minoria que mama nas tetas estatais. E a coisa é mais ou menos cultural, porque o comportamento anti-povo não é exclusividade do topo da pirâmide.
Cidadão comum, de repente ascendido a cargo de natureza política, deixa de pensar como povo e com o povo tão logo se assenta em seu gabinete, rodeado de “aspones”. A alegoria, a seguir, empregada, só pode ser compreendida pelo povão, dependente do transporte coletivo ineficiente, insuficiente, caro e demorado, nas grandes cidades. Os dos andares sociais superiores, por se locomoverem de automóvel, de helicóptero e de avião, não alcançam seu sentido. O veículo já está como gomo de linguiça, recheado de carne! Quem está dentro protesta contra a entrada de mais usuários, e os de fora entendem que há mais lugar. Mas, basta subir e se espremer dentro do coletivo, para o usuário mudar o discurso. Passa a falar como quem já resolveu seu problema, sem se incomodar com os que se mantêm na fila do lado de fora. O comportamento de políticos eleitos, e de detentores de cargos largamente distribuídos a afilhados, é similar ao de usuários de coletivos estupidamente lotados; a diferença é que os primeiros mudam de vida no saboreio dos prazeres do poder e os segundos continuam a sofrer. Conseguido o que queriam, somando bom salário a mordomias e outras coisinhas, aquelas pessoas não mais se interessam pelas questões já defendidas (terá sido assim mesmo?) com o povo.
Nos parlamentos, cujos integrantes são ditos representantes do povo, a teoria do governo pelo povo não pode ser mais falsa. Na verdade, a vontade do povo não prevalece, bloqueada que está pela vontade de grupos, por sua vez representados por partidos, teoricamente abertos à participação popular, porém, na prática, controlados por meia dúzia de políticos mais espertos. Fosse verdadeira, na prática, a representatividade popular, políticos com pendências judiciais não poderiam mais se candidatar, de acordo com a vontade do eleitorado. Entretanto, o que se vê são manobras espúrias para, praticamente, anular a lei que torna os “fichas sujas” inelegíveis. Embora o eleitorado brasileiro, na hora do voto, não dê a mínima a partidos, preferindo escolher pessoas, o número dessas agremiações supera, de longe, o razoável e tende a crescer, na contramão da tendência detectada, entre jovens, de fazer política fora de partido. À medida que políticos se distanciam do povo, mais partidos são criados, gerando também mais descrença popular em relação a ditas agremiações.
“Zebedeu” pretende alçar-se na política e, para isso, ingressa no Partido Com Nome-PCN. Dentro do partido escolhido, achando-se o tal, ele se mexe e remexe com vistas às urnas, mas não consegue se colar à cúpula, razão pela não é escolhido por seus pares ou sai derrotado no pleito. Frustrado, mas convicto de que detém potencial, apresenta-se como vítima de traição e arregimenta grupo de insatisfeitos como ele e funda novo partido, o Partido Sem Nome-PSN. A grosso modo, é mais ou menos assim que surgem partidos políticos no Brasil, tais quais formigueiros depois do voo nupcial da tanajura. Para governar, o chefe do Poder Executivo, nos três níveis, é obrigado a fazer acordos com partidos, dar empregos a correligionários derrotados nas urnas, conceder benesses aqui e ali aos que participaram de sua campanha eleitoral, enfim, fazer um governo de compadrio. Se assim não faz, pode esperar pela puxada de tapete!
O que temos, então, é a ditadura dos partidos políticos, baseada na vontade exclusiva dos seus “caciques” ou “donos”, teoricamente seguidos pelos que assinam fichas de filiação. Na verdade, partido político é como cometa: um núcleo reduzido (cúpula) envolto por matéria inconsistente (militância), que forma a cabeleira e a cauda, responsáveis pela grandiosidade aparente. Essa coisa está falida junto ao eleitorado, não só no Brasil, mas, em todo o mundo. A tendência atual, movida pela comunicação global e instantânea, é a democracia direta, na qual todos os cidadãos terão oportunidade de participar desde a pré-seleção de candidatos, escolhê-los nas urnas, avaliar comportamento e rendimento no cumprimento do mandato e decidir, se for o caso, pela cassação; tudo sob a coordenação da Justiça Eleitoral.
Partidos políticos já fizeram mal demais à humanidade!