Novas tendências do povo

29 de Julho de 2011
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Depois das amenidades, constituídas pelas “reminiscências do Dom Bosco”, em número de nove, forma adotada pelo autor para ajudar a manter acesa a chama da discussão contra o desvio de finalidade daquele patrimônio público, histórico e cultural, voltemos aos temas mais ácidos.

Diante das incoerências políticas, protelação de soluções reclamadas pelo povo, engavetamento de projetos úteis ao bem estar coletivo, sem falar nos desmandos, desvios de verbas e superfaturamento de obras, lembremo-nos que, teoricamente, democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo. Pode ser que, em algum lugar do mundo, a prática se aproxime um pouco da teoria, mas não chega a coincidir plenamente, pois se assim fosse, políticos não seriam rejeitados, como são, até mesmo em países considerados mais sérios. Em território tupiniquim, é justamente o contrário, podendo-se dizer que democracia é o governo contra o povo, pela o povo, para o deleite de uma minoria que mama nas tetas estatais. E a coisa é mais ou menos cultural, porque o comportamento anti-povo não é exclusividade do topo da pirâmide.

Cidadão comum, de repente ascendido a cargo de natureza política, deixa de pensar como povo e com o povo tão logo se assenta em seu gabinete, rodeado de “aspones”. A alegoria, a seguir, empregada, só pode ser compreendida pelo povão, dependente do transporte coletivo ineficiente, insuficiente, caro e demorado, nas grandes cidades. Os dos andares sociais superiores, por se locomoverem de automóvel, de helicóptero e de avião, não alcançam seu sentido. O veículo já está como gomo de linguiça, recheado de carne! Quem está dentro protesta contra a entrada de mais usuários, e os de fora entendem que há mais lugar. Mas, basta subir e se espremer dentro do coletivo, para o usuário mudar o discurso. Passa a falar como quem já resolveu seu problema, sem se incomodar com os que se mantêm na fila do lado de fora. O comportamento de políticos eleitos, e de detentores de cargos largamente distribuídos a afilhados, é similar ao de usuários de coletivos estupidamente lotados; a diferença é que os primeiros mudam de vida no saboreio dos prazeres do poder e os segundos continuam a sofrer. Conseguido o que queriam, somando bom salário a mordomias e outras coisinhas, aquelas pessoas não mais se interessam pelas questões já defendidas (terá sido assim mesmo?) com o povo.

Nos parlamentos, cujos integrantes são ditos representantes do povo, a teoria do governo pelo povo não pode ser mais falsa. Na verdade, a vontade do povo não prevalece, bloqueada que está pela vontade de grupos, por sua vez representados por partidos, teoricamente abertos à participação popular, porém, na prática, controlados por meia dúzia de políticos mais espertos. Fosse verdadeira, na prática, a representatividade popular, políticos com pendências judiciais não poderiam mais se candidatar, de acordo com a vontade do eleitorado. Entretanto, o que se vê são manobras espúrias para, praticamente, anular a lei que torna os “fichas sujas” inelegíveis. Embora o eleitorado brasileiro, na hora do voto, não dê a mínima a partidos, preferindo escolher pessoas, o número dessas agremiações supera, de longe, o razoável e tende a crescer, na contramão da tendência detectada, entre jovens, de fazer política fora de partido. À medida que políticos se distanciam do povo, mais partidos são criados, gerando também mais descrença popular em relação a ditas agremiações.

“Zebedeu” pretende alçar-se na política e, para isso, ingressa no Partido Com Nome-PCN. Dentro do partido escolhido, achando-se o tal, ele se mexe e remexe com vistas às urnas, mas não consegue se colar à cúpula, razão pela não é escolhido por seus pares ou sai derrotado no pleito. Frustrado, mas convicto de que detém potencial, apresenta-se como vítima de traição e arregimenta grupo de insatisfeitos como ele e funda novo partido, o Partido Sem Nome-PSN. A grosso modo, é mais ou menos assim que surgem partidos políticos no Brasil, tais quais formigueiros depois do voo nupcial da tanajura. Para governar, o chefe do Poder Executivo, nos três níveis, é obrigado a fazer acordos com partidos, dar empregos a correligionários derrotados nas urnas, conceder benesses aqui e ali aos que participaram de sua campanha eleitoral, enfim, fazer um governo de compadrio. Se assim não faz, pode esperar pela puxada de tapete!

O que temos, então, é a ditadura dos partidos políticos, baseada na vontade exclusiva dos seus “caciques” ou “donos”, teoricamente seguidos pelos que assinam fichas de filiação. Na verdade, partido político é como cometa: um núcleo reduzido (cúpula) envolto por matéria inconsistente (militância), que forma a cabeleira e a cauda, responsáveis pela grandiosidade aparente. Essa coisa está falida junto ao eleitorado, não só no Brasil, mas, em todo o mundo. A tendência atual, movida pela comunicação global e instantânea, é a democracia direta, na qual todos os cidadãos terão oportunidade de participar desde a pré-seleção de candidatos, escolhê-los nas urnas, avaliar comportamento e rendimento no cumprimento do mandato e decidir, se for o caso, pela cassação; tudo sob a coordenação da Justiça Eleitoral.

Partidos políticos já fizeram mal demais à humanidade!

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