Novo perfil econômico para o tupiniquim

17 de Dezembro de 2015
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Na última semana de novembro, quem se sente preso a compromissos convencionais já entrou no clima ou está em vias de entrar, com a preparação de festas e distribuição de presentes, gastando reservas ou receita ainda a se realizar. Neste ano com a economia nacional a se afogar, mantendo apenas a mão à tona, em pedido de socorro, o natural seria a retração total nas comemorações de fim de ano, cada qual a se conter no consumo, para que em situação pior não fique, sabendo-se que obrigações forçadas e predefinidas, virão tão logo passem os eflúvios do “révèillon”.

Entretanto, sabe-se que o brasileiro, indisciplinado e imprevidente, fecha os olhos à realidade e parte para a gastança desenfreada, como se o mundo fosse acabar no dia seguinte. Depois não dá conta de pagar o que gastou, antecipadamente e sem necessidade, perde o crédito, lamenta e promete não repetir a dose, mas no final de ano seguinte faz tudo de novo. Pergunta-se a razão de tal comportamento, independente das condições particulares.

Não é preciso muito esforço para identificar a causa na dependência a influências externas, que se impõem com sugestões falsamente necessárias à realização pessoal, promoção ou consolidação de posição no meio social. Destituído de convicções próprias, em razão da ausência do hábito de determinar prioridades, o consumidor brasileiro elege como necessidade sua o supérfluo, porque o vizinho ou amigo assim faz, e, ele se sentiria diminuído se também não fizesse. A distribuição de presentes é saudável e merece estímulo, quando se realiza dentro do razoável, configurado em folga financeira. Dar presentes não é obrigação, como grande parte das pessoas considera! Ninguém está obrigado a dar presentes, por ocasião das festas natalinas, se não por imposição de convenção social, à qual também ninguém deveria estar preso, e por pressão da propaganda comercial, que seduz incautos e susceptíveis a influências externas. Ainda dentro do razoável e possibilidades, em tempos difíceis, como o atual, a tradição dos presentes poderia se limitar ao ambiente doméstico, em relação aos filhos ainda crianças, sem que o orçamento da família se comprometesse. Aliás, isso deveria ser parte da educação dos filhos, desde pequenos, incutindo-lhes a responsabilidade no trato com os próprios recursos, que não são infinitos e nem estão à disposição, sem que haja esforço prévio sob a forma de trabalho.

Ao aprender gastar com responsabilidade, a criança se prepara para mudar o perfil econômico do brasileiro, de gastador para poupador, uma das condições para que o país saia da dependência crônica de fatores externos e assuma identidade própria, no traçado de seu futuro. Em detrimento da pujança que o país poderia ter, na área econômica, a cultura tupiniquim não contempla o investimento em si próprio, mas valoriza, em demasia, a aplicação em bens. Por isso, cresce o número de matriculados em escolas, porém o número de verdadeiros interessados no aprendizado não corresponde ao das matrículas, estando grande parte em busca de tão somente diploma, que dá salário e status, mas não conhecimento. Na falta do emprego, consequência direta da crise, mais vale o conhecimento com o qual exercer atividades alternativas que, podem se revelar o verdadeiro e mais adequado trabalho para a pessoa.

O primeiro investimento em si próprio deveria ser a educação, o aprendizado consciente de uma profissão e a diversificação de conhecimentos, de acordo com suas habilidades e talentos, para que não se sinta perdido, em eventual perda de emprego ou crise em sua atividade usual. Também importante o cuidado com a própria saúde, mediante busca de conhecimentos, orientação profissional e comportamento adequado à sua preservação. Com educação e saúde, o indivíduo está pronto para a atividade, que lhe concerne, mas ainda há um terceiro investimento pessoal com relação ao futuro, na velhice. A previdência oficial, dentro das expectativas do trabalhador, não é mais a mesma, da qual seus primeiros segurados receberam amparo. Suas possibilidades se reduziram e esperança não há de recuperação, porém de mais perdas para seus segurados. Há que repensar a postura diante do futuro, não deixando tão somente à instituição oficial o encargo quanto à aposentadoria e eventuais ocorrências impeditivas do trabalho. Aqui entra a previdência privada, não como substituta daquela, porém seu complemento. Entretanto, subscrição de plano de previdência privada esbarra em fator cultural extremamente pernicioso. Brasileiro mediano não tem o hábito de poupar ou investir em si próprio, preferindo gastar seus recursos com supérfluos a empregá-los em algo preventivo. Essa mentalidade precisa ser reformulada a partir de trabalhadores mais jovens, recém-ingressados no mercado de trabalho.

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