O apocalipse político-partidário

04 de Novembro de 2011
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Pessoas acima dos quarenta anos, quando reunidas e em conversa informal, manifestam sua insatisfação em torno de vários aspectos da vida moderna, da convivência em comunidade, das relações pessoais e, sobretudo, da questão ética nos meios políticos e, por extensão, na administração pública. São tantas as questões a toldar o clima social, que muitos não veem solução à vista, porém o caos absoluto e, aí... salve-se quem puder!

Confrontam-se diferenças brutais, entre o passado e o presente, com destaque para forte redução da confiabilidade que o indivíduo precisa manter em relação aos pontos de sustentação da sociedade. O grau de confiança desce a níveis tão baixos, a ponto de afetar a qualidade de vida, pois a falta de confiança nas estruturas gera intranquilidade, fator dos mais negativos a influenciar o bem estar pessoal. Banaliza-se a criminalidade, degrada-se a convivência social em razão do desrespeito aos direitos individuais, descarta-se a ética em favor do vale tudo e das vantagens que cada qual busca para si. Não se distinguem limites impostos pela razão, pelo bom senso e, finalmente, pela lei.

A questão da criminalidade armada e da violência física, vista até pouco tempo por alguns teóricos como fruto do desemprego e da miséria, é o lado mais explícito da degradação moral, que chega ao topo da pirâmide. É assim que se desconhece, em boa parte da sociedade, que traficante, de bazuca em punho, não é mais bandido que comandante policial militar que mata ou manda matar juíza ou quem quer que seja, assim como não menos ladrão, juiz vendedor de sentenças, que assaltante de banco. Invasor de propriedade, seja lá com que propósito, não é menos criminoso que político que o apoia, ou desvia dinheiro para tal fim, ou ainda se locupleta à custa do erário, enquanto serviços públicos de extrema necessidade mergulham no caos. Também morte causada por bêbado ao volante não é menos assassinato do que a causada por tiro de revólver disparado por mão de facínora; assim como tragédias provocadas por condições ou circunstâncias, sabidas e não resolvidas pelo poder público, podem ser consideradas criminosas, o mesmo raciocínio valendo para o mau serviço público de saúde.

Serviços urbanos de qualidade, rodovias, transporte, serviços de saúde são necessidades do dia-a-dia do cidadão, e, em razão dele, unicamente, devem ser criados e mantidos a contento. Mas, neste país grande e bobo, o cidadão tupiniquim parece fadado a viver das consequências de fatos ditados de fora ou das sobras do proporcionado aos que aqui vêm e vão. A Rodovia dos Inconfidentes, por exemplo, só saiu do abandono completo a que foi relegada, devido à troca do automóvel pelo helicóptero na viagem do governador a Ouro Preto para o 21 de Abril, por ocasião da reunião do MERCOSUL, nas duas edições, separadas no tempo por dez anos. As necessidades de seus usuários diários não contaram ponto para as providências requeridas. No momento, há pressão externa para se adequarem equipamentos e serviços públicos às exigências ditadas por organizadores da Copa do Mundo, em 2014, evento que o ufanismo futebolístico tupiniquim, levianamente, reivindicou para aqui se realizar. O que deveria ser feito, por que é direito do povo, vai ser porque organismo e circunstâncias externas assim exigem, além de atropelar leis brasileiras. Direito e necessidades do povo não contam!

Diante disso, pessimistas acreditam que tudo está perdido; que não há mais volta. E pode ser justamente o contrário, assim como das cinzas renasce a fênix e do lodo brota o lírio. Sinais indicam que começa agora o apocalipse no campo da política partidária. Começou no mundo árabe, de onde não se esperava, com o povo indo às ruas, espontaneamente e sem apelos político-partidários, a pedir o fim de governos tirânicos. Sob as mesmas características apartidárias manifestações se espalham por todo o mundo, para chamar a atenção sobre os grandes conglomerados financeiros, considerados os responsáveis pela grave crise econômica, que contamina governos e se abate, finalmente, nas populações mediante desemprego, aumento de impostos, corte de investimentos e de benefícios sociais. No Brasil, ainda timidamente, o 7 de Setembro, foi marcado por manifestações anticorrupção, em várias cidades, também sem qualquer vínculo partidário; os que tentaram se valer da oportunidade foram rechaçados. Mas, em se tratando do Brasil, já é um bom começo, pois aqui o que leva o povo para as ruas é carnaval e futebol. E é bom que cresça aos poucos, se alimente do pensamento e amadureça, para então produzir o resultado que se espera. Chuva que vem em forma de tempestade leva a semente na enxurrada! Em todo o mundo, os políticos têm contabilizado antipatia e rejeição por parte do povo; só não estão pendurados, em falta de quem chute o tamborete no qual se mantêm de pé; porque a corda já está no pescoço!

Interessante observar que a mobilização para essas manifestações tem sido feita pela internet, ferramenta ainda não ao alcance da maioria, mas tem dado resultados. E muita coisa ainda se fará por esse meio, para que humanidade se torne mais fraterna, e os indivíduos menos omissos nas decisões que interessam à coletividade. O futuro da Política (com P maiúsculo) está nas mãos da sociedade organizada, pois partidos políticos já fizeram mal demais à humanidade!

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