No topo das discriminações

28 de Outubro de 2011
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Pelo que se percebe nos meios de comunicação, nunca se combateu tanto a discriminação e o preconceito, mas o assunto é igual à “coisa que quanto mais mexe, mais fede”. Assim é que, ao invés de eliminadas as conhecidas, outras discriminações surgem e vão se juntar às mais antigas, para formar barreiras diante do ser humano no exercício de seus direitos. Mas é interessante notar que, à medida que cresce o poder aquisitivo do indivíduo, as restrições à sua atuação na sociedade vão diminuindo até praticamente serem eliminadas. Logo, a maior discriminação é contra a pobreza. Ser pobre é a coroação de todas as condições discriminadas!

Altamente respeitada no passado, mesmo porque poucos a alcançavam, insere-se, hoje, entre as discriminadas, a condição de aposentado. Em conversa com pessoa há poucos dias, ouvi dela uma observação que passei fazer também ao ver, ouvir e ler noticiário. Dizia-me que ao ser focalizado como envolvido em fatos noticiados, o trabalhador na condição de “beneficiário” permanente da Previdência Social perde a identidade como cidadão e passa a ser apenas “aposentado”. Não importa a profissão que tenha ou o que ainda faça, ao ser notícia, por qualquer motivo, ele é apenas aposentado, a menos que tenha muito dinheiro. O amigo dizia que tal palavra se tomou estigma na vida, mesmo se o cidadão continua a trabalhar, o que não é raro, pois o que ele recebe do lNSS, tendo em vista o quanto contribuiu para o sistema, é uma piada e não dá para se sustentar com dignidade. Felizes são aqueles que ainda têm força suficiente para não deixar o trabalho, podendo assim disfarçar a condição que o torna cidadão descartável, peso morto e considerado pelo Estado “altamente” oneroso.

Como exemplo da triste realidade vivida por aposentados, relatou-me a mesma pessoa que, desejando efetuar uma compra a crédito, devido ao valor relativamente alto, escolheu a mercadoria, definiu com o vendedor qual a forma de pagamento, mas ao fazer a ficha do crediário foi barrada na compra. Bastou dizer que era aposentado para o vendedor suspender a operação, dizendo que ele não teria como quitar as prestações. Nem lhe perguntou qual seria sua renda. E ele tinha condições de assumir o compromisso. Este é o perfil econômico do aposentado diante do mercado; perfil cruel criado pela injustiça do sistema previdenciário que, ao longo do tempo, nivela por baixo todos os ex-contribuintes compulsórios, não importando o quanto estes contribuíram na condição de empregados. Antes quem sofria esse tipo de discriminação eram idosos nos limites da expectativa de vida, por medo de eventual morte antes de concluído o pagamento das prestações. Conclusão triste: para o mercado, o aposentado é um pré-morto!

O sentido original da palavra aposentadoria seria “recolhimento aos aposentos”, significando que ao vencer seu tempo de contribuição ao sistema previdenciário, o trabalhador deixaria de trabalhar para o seu sustento e isso lhe permitiria o exercício do lazer e de atividades voluntárias em beneficio da comunidade, sem prejuízo à sua qualidade de vida. Mas, tudo fica longe com a espoliação do trabalhador pela Previdência Social, uma estrutura mal montada cuja voracidade na arrecadação junto ao assalariado tem como contraponto, diante da sonegação empresarial e de setores oficiais, uma condescendência que chega a ser criminosa. Nem se fale da corrupção, fruto da parceria entre corruptos de dentro e de fora do balcão do INSS. E ainda por contar com o estado de mal informado vivido pela maioria, o sistema produz milhares de injustiças entre contribuintes que chegam à aposentadoria. Os poucos que detectam os erros e ousam enfrentar a “patifaria oficial” gastam anos para provar que têm razão, mas nem sempre têm seus direitos reconhecidos de fato.

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