O grande embuste

10 de Outubro de 2011
Jornal O Liberal

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Por Paulo Felipe Noronha

Encerrou-se a greve dos professores da rede estadual em Minas Gerais. Agora, vamos acompanhar outras greves (bancários, correios) que talvez não tenham melhor sorte.

Mas há algo de maléfico na greve dos professores, que me chamou atenção recentemente. Não era apenas a classe política, que não satisfeita em achincalhar aos professores com salários pífios para uma profissão de valor decisivo para o desenvolvimento do país, ainda deram para ofendê-los, com repressão e ataques dos mais covardes à sua já combalida estima.

Mas a reviravolta mais maléfica disso tudo é que, a cada nova greve, mais e mais a opinião pública se volta contra o professorado. Nossos governantes vêm isso, e utilizam de subterfúgios como a contratação de professores temporários, iniciantes, ao mesmo tempo em que livremente reprimem os profissionais em protesto e gastam com propaganda enganosa. Da população, apenas a reclamação e desconfiança em relação ao movimento, que segundo suas palavras, “deveriam trabalhar e parar de se preocupar com dinheiro, deixar a vagabundagem de lado” e outros raciocínios igualmente deploráveis.

Então, permitam-me contar uma história: professor com boa formação e envergadura resolve, por acreditar em sua missão, dar aula em Antônio Pereira, uma escola estadual. Uma vez lá, se depara com condições inumanas de trabalho, infra-estrutura absolutamente ruinosa, e um mal-estar social difícil de prever. Mas insiste. Quando chega seu contracheque, algo em torno de R$ 600 à R$ 700,00. Se não houver descontos de qualquer natureza, claro. Mas não é apenas isso! Ele vem de Mariana, e gasta aproximadamente R$ 180,00 ao mês apenas com transporte. Claro, lhe resta pouco mais de R$ 400,00 para suas outras necessidades. Seu aluguel é de R$ 500,00. Essa, é uma história real.

E esse salário ínfimo, que inviabiliza àqueles que estão preparados para ensinar, é justificado de modo torpe, quando se compara o ato de ensinar com sacerdócio, uma espécie de senso comum cruel. O sacerdote é aquele que entrega sua vida a Deus e não espera recompensa terrena. Mas o professor não é um sacerdote, ainda que precise mesmo de muita fé.

Esse é o grande engodo.

Nossa classe política se apropriou do que há de mais nobre no ato de ensinar, que é a vocação, que se espera, cada professor tenha para educar, e utilizou essa idéia romântica contra o próprio. A população comprou tal noção, e professorar agora, na visão do estado, não passa de tutelagem no seu sentido mais vil, os professores são babás cuidando de filhos para pais que precisam produzir capital, e girar a máquina.

Nosso governador Anastasia, continuador da política de Aécio Neves, é um dos ícones desse absurdo abusivo. E qualquer um que acredite no valor da educação, não dará, futuramente, seu voto a esses embusteiros. E que a justiça não venha com seu corpo mole dar guarida aos desrespeitos e injustiças de nossa classe política! Chega de enganação, educação é, de fato, o único caminho, é o óbvio ululante que todos concordam, mas quando o pau quebra, fica conveniente “esquecer”. 112 dias de greve foi é pouco!

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