O que é próprio da natureza

22 de Setembro de 2017
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

O mundo, com pesar e angústia, acompanhou pela mídia a evolução dos apavorantes acontecimentos decorrentes de dois grandes furacões, que devastaram ilhas do Caribe e boa parte dos Estados Unidos. Entre fenômenos atmosféricos, o furacão talvez seja o que mais mete medo, devido à sua grandiosidade em termos de velocidade do vento, volume de água envolvido, e área de abrangência (largura e extensão percorrida). O medo começa muito antes, desde que anunciado o fenômeno com informações sobre seu potencial de destruição, sua extensão e área a ser percorrida. É quando o ser humano, com toda sua empáfia, se vê diminuído à dimensão de um grão de poeira, diante da força e da grandeza da natureza. Não há como resistir e, muito menos controlar tal força, cabendo ao Homem recolher-se à sua insignificância, procurar abrigo, se tiver, e aguardar a passagem do poderoso visitante. Pouco há que fazer, senão fugir ou se proteger antes do fenômeno, ficando tudo o mais a ser reconstruído, depois. Contra tal força poderes humanos se anulam, igualando-se ricos e pobres na mesma situação debaixo da solidariedade dos de boa vontade.

Para nós, tupiniquins, livres de problemas do gênero, pelo menos dessa magnitude, sobra inspiração para comparações hilárias, pois se a atmosfera é mais bem comportada, na política, ao contrário, reinam os furacões alimentados pela corrupção. Enquanto, lá, os ventos sopravam, levando pesadas cargas de chuva e altas ondas do oceano sobre a terra, cá o redemoinho das investigações, denúncias, prisões e depoimentos deveria provocar o descabelar de políticos envolvidos, mas, não; os caras-de-pau não se vexam e prosseguem na onda do crime, mesmo depois de presos. Em outros países, políticos renunciam aos cargos, ainda que apenas suspeitos de irregularidades. Talvez, por isso, o Brasil tenha sido contemplado com natureza mais tranquila. Há políticos bastantes para fazer estragos!

Quanto aos furacões de lá, é interessante a observação sobre o chamado “olho”, grande surpresa para os leigos, que veem o fenômeno apenas por imagens na televisão ou na internet e dele não tem outro conhecimento além da violência e estragos que causa. Ao contrário do que se possa imaginar, no “olho” do furacão reina relativa calmaria, podendo-se, com algum risco, nele entrar para observações. É o que fazem técnicos e cientistas que, de dentro de um avião, por sua vez dentro do furacão, fazem pesquisas sobre o gigantesco redemoinho que, lá embaixo, revira tudo de pernas para o ar. É o grande contraste, no mesmo momento e espaço; duas faces opostas da natureza!

Também assim, se não voltado para as aparências externas, deveria ser o indivíduo diante das circunstâncias desfavoráveis, não se deixando dominar pelos aspectos negativos dos acontecimentos desfavoráveis à sua volta. O mundo pode estar a desabar ao seu redor, mas o indivíduo consciente de sua natureza, livre de culpa que tumultue sua consciência, persiste inabalável, embora todo o exterior possa conspirar contra si. Seu interior, seu íntimo é semelhante ao olho do furacão que, a contrastar com seu exterior, mantém-se em calmaria.

Da ação devastadora resultaram perdas de vida humana e prejuízos materiais, calculados em bilhões de dólares, ensejando-se classificação dos fenômenos como tragédia natural, catástrofe natural, desastre natural, assim como em todas as ocasiões que, do embate ou tentativa contra as forças da natureza, o Homem perde. Há um equívoco nessa assertiva porque tragédia, desastre, catástrofe e similares pertencem unicamente ao universo humano; que resultam em sofrimento para a espécie. Por muito violenta que seja uma ação da natureza, espontânea ou em resposta à intervenção humana, ela é unicamente um fenômeno natural. Desde um pequeno deslizamento de terra ao mais violento dos terremotos; da simples garoa à dita furiosa tempestade; da suave brisa, a nos refrescar do calor, ao tufão, furacão ou tornado, tudo é natural, ou seja, próprio da natureza. São apenas fenômenos naturais! Tragédia, desastre ou catástrofe são conceitos ligados a sofrimento e perda, puramente humanos!

Em decorrência daqueles fenômenos, houve realmente tragédias, voluntária ou involuntariamente, provocadas pela ação humana; então, foram simplesmente tragédias. Muitos vídeos foram gravados e três dos vistos destacam-se na exibição da tragédia ou quase tragédia. Imensas ondas avançam sobre a praia, onde muitos incautos se põem a correr como formigas; enquanto o vento faz balançar o veículo tipo van, presumível proprietário tenta evitar que ele tombe, mas acaba o dono sob o peso do veículo, que não consegue se manter sobre as rodas; enquanto sensatos buscam proteção, bando de malfeitores invade supermercado e o saqueia. Muitas vezes, o ser humano é a própria tragédia!

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